"O Doador de Memórias", originalmente, chama-se apenas "O Doador", e faz parte de uma série de quatro livros, todos ambientados no mundo construído por Lois Lowry. Cada um destes livros tem um protagonista e uma estória diferentes, e "O Doador" é o primeiro livro do quarteto.
Lois Lowry escreveu mais de trinta livros infantis e, depois de um tempo nesta área, resolveu inovar e escrever uma obra de ficção fantástica. Em todas as suas obras, Lois explora temas polêmicos para educar as crianças, como, por exemplo, racismo, doenças, assassinatos, entre outros. Por isso, ela já ganhou diversos prêmios e é mais reconhecida no exterior do que sabemos aqui no Brasil.
O protagonista deste primeiro livro é Jonas, um pré-adolescente de doze anos que chegou na idade de saber qual é a profissão que terá. Não é incomum que as distopias mostrem que as pessoas tem funções pré-definidas no nascimento (como em "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley, por exemplo), e nesta estória não é diferente. Assim, na cerimônia de nomeação, Jonas descobre que será encarregado da função mais específica e rara que existe em sua sociedade, que é a de Doador de Memórias. Ele deve receber todas as memórias de todo o passado da Humanidade, que lhes serão transmitidas pelo Doador atual. No livro, a figura do Doador (bem como a do Pai e da Mãe de Jonas) não tem nome próprio, e as pessoas não tem sobrenome, uma vez que o nome de cada um é escolhido pelo Conselho, e não pelos progenitores. Nenhum nome é repetido e nada sai do padrão pré-estabelecido: há idade certa para usar determinadas roupas, para andar de bicicleta, para parar de brincar, e assim por diante. A distopia de Lois parece ter sido criada por alguém com Transtorno Obsessivo-Compulsivo, pois o que não faltam são regras, parâmetros e diretrizes do que é certo e errado.
Tantos aspectos existentes na nossa sociedade atual foram excluídos nesta distopia que, por vezes, é difícil imaginar alguns pontos. Por exemplo: no mundo de "O Doador de Memórias" não há cores. O mundo é um tom lavado de sépia. Uma das primeiras coisas que Jonas recebe é a memória da cor vermelha. Além disso, também não há casamento por amor, e sim, por afinidade, que é medida cientificamente pelo Conselho.
Agora, falando um pouco sobre a adaptação ao cinema. O livro foi lançado em 1993, mas chegou aos cinemas somente em 2014, na onda/moda de outras distopias, como "Divergente" e "The Hunger Games". Acredito que os estúdios quiseram se aproveitar deste movimento de sagas distópicas voltadas para um público mais adolescente. Por isso, o filme não teve a profundidade e a mesma inteligência que o livro possui, pois tentaram enquadrar a estória em um determinado estilo. O livro enfatiza bastante que tais regras e diretrizes existem para assegurar a paz na Humanidade, já que nosso modelo atual de convivência levou à Guerra e à destruição. No filme, este caráter perde o foco, em detrimento da relação "amorosa" de Jonas. Além disso, a distopia de Lois Lowry é mais conceitual e filosófica do que qualquer outra coisa, não tendo grandes momentos de ação ou de aventura como nestas distopias atuais. Transposto para o filme, este enredo mais "parado" perdeu força.
O livro ou o filme? Ficou fácil perceber que, desta vez, optei pelo livro.
Infelizmente, a adaptação da estória ficou prejudicada pela moda das distopias. Lois Lowry escreveu uma distopia à moda antiga, mas o filme foi feito para um público novo, e neste meio do caminho, se formou um buraco. Uma pena. Mas o livro vale a pena ser lido e refletido, e estou ansiosa para ler os livros seguintes do quarteto.
2 Comments
Oi, Ruh!
ResponderExcluirAhhh, que alegria saber que você inseriu esta história aqui! Na época do lançamento do filme, a história não me atraiu na-di-nha, por mais que algumas pessoas falassem também do livro. Tanto é que demorei esse tantão para, enfim, dar uma chance. E tenho que discordar contigo. Como eu disse, não li o livro, mas o filme me tocou de um jeito que acho que o livro não faria. Acho que, pelo fato de imagens serem muito imediatas nas nossas reações, a carga emocional que me acometeu foi gradiosa. Talvez, apenas lendo, eu não tivesse me emocionado tanto (aquele final, com aquelas cenas emblemáticas e históricas... Como não me sentir afetada, né? É aí que entra o imediatismo, acho). E quanto ao outro ponto que você mencionou, sobre o caráter profundo e inteligente ter perdido o foco em detrimento ao romance no filme, também discordo. Na verdade, eu fiquei muito feliz por constatar que quase não houve romance e que todo o amor do qual os personagens falavam não estava relacionado, estritamente, ao romântico - a profundidade do filme que me tocou foi justamente essa: a de encarar o amor mais como compaixão pelo próximo e como esperança, não simplesmente como a relação amorosa entre casais. Tô bem a fim de ler o livro, talvez eu faça isso em breve! *-*
Love, Nina.
http://ninaeuma.blogspot.com/
Nossa, então acho que assisti ao filme com o coração muito amargo, hahaha! Não fiquei assim tão emocionada - nem no filme, nem no livro - mas acho que é porque tenho a tendência de reparar mais nos aspectos distópicos/fantasiosos das estórias, e não tanto nas emoções delas. Ai ai ai, ser Corvinal é assim mesmo! rs
ExcluirLeia o livro sim e depois vamos debater mais um pouco!
(Estava com saudade de vc passando por aqui).
Bjs!