Por definição, crise é uma alteração importante no desenvolvimento ou no curso de algum evento. Esta alteração, necessariamente, gera algum tipo de escassez, seja do que for (dinheiro, alimento, afeto, relacionamentos, etc). Em casos como o de uma crise existencial, o sentido da palavra seria de que aquela pessoa está com escassez de tudo aquilo que faz sua vida funcionar, em todos os níveis. E, por isso, muitas vezes o que faz falta para uma determinada pessoa não faz para outra, pois as necessidades de cada um são muito particulares. Com isso, nem sempre as pessoas que estão ao nosso redor compreendem os motivos das nossas crises.
Mas estou aqui para dar uma boa notícia: entrar em crise é bom. O segredo está em transformar a crise em algo benéfico para a evolução da nossa vida. E como a grande maioria das pessoas teve, tem ou ainda terá uma crise, resolvi compartilhar o que eu aprendi com as minhas.
Muitas pessoas se assustam quando percebem-se em crise. Nós crescemos sob um paradigma de felicidade constante (ainda mais em tempos de redes sociais), e este paradigma, no fundo, é uma mentira. É impossível ser feliz o tempo todo: nossos anseios, sonhos e necessidades mudam, assim como o mundo ao nosso redor. A crise, nada mais é, do que um recado: "você precisa mudar para acompanhar a maré". Se ignorarmos este recado, a vida vai gritar ele nos nossos ouvidos até que estejamos dispostos a ouvi-lo, mas fugir dele só vai gerar mais angústia e mais aflição.
Crises são, essencialmente, processos muito emocionais. Por isso, é importante transformar a emoção em razão. As emoções são importantes porque nos situam (estamos alegres ou tristes? calmos ou ansiosos?) mas basear-se somente nelas é um problema dos grandes. No meu caso, transformo minhas emoções em pensamentos racionais através de listas. Se alguém perguntar "Com o que você está em crise?", você provavelmente vai responder "Com tudo!", mas esta resposta não ajuda em nada. Defina o que é este "tudo": família, relacionamentos (com quem?), saúde, emprego, dinheiro, escola/faculdade, e assim por diante. Costumo escrever o que está me incomodando e, embaixo, fazer uma lista do que exatamente mais me chateia ou aborrece em cada item.
Sempre temos alguns aspectos das nossas vidas que são realmente essenciais para nós. O difícil é conseguirmos separar o que os outros esperam que sejam nossas prioridades. Quando digo "filtrar" o que é importante, eu quero dizer: esqueça, por alguns minutos, o que a sua família, seus amigos ou companheiros, a sociedade ou seu chefe esperam de você. Olhe para a lista que você fez no passo anterior e decida o que você quer fazer por si mesmo, independente da opinião dos outros. Descubra o que você quer, e separe do que os outros querem que você queira. Deu para entender?
Uma vez que você decidiu por onde vai começar a evoluir na crise, esteja preparado para aceitar que você irá sair da sua zona de conforto, mas que você vai encontrar coisas muito melhores do outro lado. No caso de uma crise, é preciso ir além e realmente estar disposto a promover mudanças significativas. Afinal, se você não precisasse mudar alguma coisa, você nem estaria em crise, não é mesmo?
Acredito que é melhor fazer um pouco todo dia, do que fazer muito de uma vez só. Explico: qualquer mudança exige tempo, disciplina, comprometimento e coragem. Tudo isso se adquire com o hábito, e o hábito se instala para ficar quando fazemos um pouco por dia. Do contrário, pode ser só um rompante passageiro de entusiasmo, sem ganhos a longo prazo. Então, não se pressione a começar grande ou dar passos enormes em direção ao que você percebeu que é importante para você. Traduzindo: não precisa pedir demissão no dia seguinte, largar a faculdade, terminar o namoro ou fugir de casa. Não importa a velocidade, e sim, o caminho. E, aos poucos, este hábito diário vai fazer você se sentir mais forte e mais disposto a superar a crise e, quando menos perceber, plim!, ela terá ido embora.
Como disse no início, este passo-a-passo é o que funciona comigo, mas cada pessoa tem seus próprios meios de superar crises. De qualquer forma, espero ter ajudado, caso você esteja no meio de uma. Nunca se sabe.
2 Comments
Nossa! Que texto mais lindo! Você tem muita profundidade nas palavras e ao mesmo tempo simplicidade. Fazia tempo que eu não parava para refletir assim. Parabéns! Com certeza vou voltar mais vezes no seu blog!!!!
ResponderExcluirBjs
Se quiser visitar meu blog, vou ficar feliz :)
http://chuvacobertaelivros.blogspot.com.br/2016/02/entrevista-com-ava-dellaira.html
Oi Ana!
ResponderExcluirFiquei muito contente que você tenha gostado do post e me visite sempre sim, adoro visitas! <3