A primeira série de livros que prendeu minha atenção foi "As Brumas de Avalon", de Marion Zimmer Bradley. Li esta série quando era criança, por volta dos dez anos de idade, e até hoje o tema me inspira.
Sim, sou eu nesta foto. (:
A partir desta leitura, comecei a me interessar por um tipo, digamos, particular de magia. Credito à esta série de livros o meu despertar para a literatura fantástica, bruxas, sacerdotisas e tudo o mais que vem no pacote.
Daí para me aprofundar no tema do misticismo, foi um pulo. Ao contrário do que muitos pensam, o misticismo não está relacionado a nenhum tipo específico de religião ou doutrina, e também não se trata de bruxarias maléficas. O misticismo, nada mais é, do que a sensação ou a necessidade que uma determinada pessoa tem em conectar-se com algo maior do que ela (que pode ser Deus, a Natureza, uma Energia, ou qualquer nome que dêem).
Mais do que uma teoria, o misticismo envolve uma experiência e, a partir desta experiência, a pessoa vive esta tal conexão. Há quem faça rituais (como em "As Brumas de Avalon" e as cerimônias de solstício de inverno) mas, no meu caso, sinto isso quando caminho descalça na natureza.
Recentemente, comentei que viajamos para as Serras Gaúchas e lá encontramos a Trilha das Ruínas do Moinho, onde tirei as fotos que ilustram este texto. Era um lugar isolado, onde ficava a nascente de uma cachoeira belíssima (e enorme), a Cachoeira do Caracol. Era úmido e tinha cheiro de floresta, além do barulho da água corrente. Senti uma energia tão positiva naquele pedaço esquecido de natureza que me senti renascida. Isto seria uma experiência mística - simples, não?
Os gregos acreditavam que uma experiência mística é, antes de tudo, um encontro consigo mesmo. É um estado de lucidez, como Clarice Lispector já dizia: "Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum. (...) Estou, por assim dizer, vendo claramente o vazio e nem entendo aquilo que entendo, pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço."
Não por acaso, alguns anos depois, a literatura de Clarice me fisgou: além de mística, era melancólica. A combinação perfeita.
O misticismo é individual e intransferível e, muitas vezes, é difícil de explicar ou de definir. É algo particular, que cada pessoa vive de seu jeito, sem grandes generalizações. Alguns meditam. Outros criam. Eu escrevo (e Clarice também).
Para mim, se fico muito tempo longe do silêncio, da solidão e da natureza, vou sentindo uma inquietação que culmina em picos dolorosos de ansiedade. É como se eu ficasse longe de mim e precisasse destes reencontros. Acho que Clarice me entenderia, como sempre.
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