Sugestão de Leitura | A Mão Esquerda da Escuridão, de Ursula K. Le Guin


De tempos em tempos, sinto a necessidade de descobrir um autor novo que me inspire.

A descoberta da Ursula K. Le Guin foi maravilhosa (obrigada, Dani!) e ela entrou na minha lista de escritores preferidos - lista esta, aliás, que cresce pouco, pois sinto falta de idéias originais na literatura contemporânea. Ela ganhará um post só dela em breve, portanto, vou me concentrar em falar desta sua obra, "A Mão Esquerda da Escuridão".

O gênero deste livro é ficção-científica, e considero o melhor que já li sobre o tema. A obra foi escrita em 1960 e é inacreditável como ainda é atual, futurista e inovador, mesmo depois de 55 anos. A maior transgressão da obra é que Ursula criou um universo onde os seres são andróginos: não há distinção entre homens e mulheres, pois todos são ambos.

Genly Ai é enviado ao planeta Gethen (ou Inverno) com a missão de convencer seus governantes a se aliarem a um grupo de 80 planetas, formando uma aliança universal. Genly é da raça humana, porém, ele não é exatamente como nós. Ursula postula como seria a evolução do ser humano e da Terra. Com isso, ele é um homem heterossexual e sente as diferenças de estar numa sociedade onde não existe gênero. Genly também precisa lidar com a cultura diferente deste planeta e com as sutilezas dos relacionamentos, tanto políticos como pessoais.


Embora o pano de fundo do livro seja ficção científica, a estória fala de relacionamentos. Genly se aproxima de Estraven, Primeiro-Ministro de um dos países do planeta Gethen, e ambos são alienígenas aos olhos do outro e precisam superar e tolerar uma série infindável de diferenças: de pensamento, de comunicação e de percepção. E, convenhamos, nós também sempre somos estranhos ao outro até que ele nos conheça, então as analogias com a nossa vida são infindáveis. Acho que esta é a primeira questão importante do livro.

A segunda questão importante é sobre a não diferenciação dos gêneros que mencionei no início. Ursula extrapola esta questão em todas as suas implicações sociais, biológicas, psicológicas e emocionais, e percorre quais seriam todas as consequências de não ter a divisão masculino/feminino. Ela coloca na estória desde os impactos dentro dos relacionamentos como o impacto na sociedade como um todo.

"A Mão Esquerda da Escuridão" é um livro que faz pensar. Quando a leitura termina, as idéias e concepções dele ficam maturando dentro da cabeça, e a cada dia percebo uma nova reflexão que ele gerou ou uma sutileza importante. Vale a leitura como ficção científica, vale a leitura como teoria social e vale a leitura como visão de relacionamentos.

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