Acredito que um livro pode ser considerado marcante quando ele transcende, de alguma maneira, os paradigmas vigentes. E, mesmo no século 21, nós ainda nos deparamos com uma série de preconceitos e convencionalismos que precisam ser discutidos, no mínimo. Por isso, escolhi três livros que falam sobre certos tabus de sexualidade que existem na sociedade.
O Jardim do Éden, de Ernest Hemingway
Hemingway foi o escritor homenageado em Fevereiro, onde falei um pouco sobre sua obra. Um de seus poucos livros que tratam de romance e relacionamento é O Jardim do Éden, de 1946. Saber o ano do livro é muito importante neste caso, para que tenhamos a dimensão da quebra do paradigma.
O livro narra a lua-de-mel de David e Catherine Bourne na Riviera Francesa. O primeiro trecho do livro foca o dia-a-dia dos dois, os prazeres das praias, bebibas e relações amorosas. Em um dado momento, Catherine fica entediada, mesmo com o curto tempo de casada e com o cenário de sonhos onde eles estão e, então, ela resolve cortar o cabelo bem curto e fingir que é um menino, ao que David entra relutante nesta fantasia. Após algum tempo, eles conhecem uma jovem chamada Marita. Rapidamente, Catherine se apaixona por ela e a inclui em um triângulo amoroso, que também encontra um David relutante.
Este livro brinca com as noções básicas dos relacionamentos: monogamia, fidelidade, amor e gêneros. É muito interessante ver a dinânica que se forma entre os três e Catherine é a personagem mais relevante da estória, pois ela alterna entre ser mulher e ser homem, entre ser plenamente feliz e completamente entediada.
Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu
Caio é um grande escritor brasileiro e eu o admiro. Infelizmente, ele morreu de Aids em 1996, apenas seis anos depois de conseguir ter suas obras publicadas. Homossexual assumido, foi corajoso em uma época que os estigmas eram ainda piores do que os de hoje.
Morangos é um livro de contos, onde Caio fala abertamente sobre sexualidade. Alguns trechos são, inclusive, bastante gráficos, e um leitor desavisado pode ser pego de surpresa. Porém, fica claro que ele usa o palavreado franco e explícito como forma de se expressar, deixando a sua narrativa intensa e vigorosa, nunca pornográfica. Além disso, seus contos também são sensíveis e profundos, pois ele mesmo já disse que teve influência da MAMÃE Clarice Lispector. Vale a leitura por ambas as facetas dele.
Lolita, de Vladimir Nabokov
Hoje, pedofilia é crime e é um conceito bem claro para a maioria das pessoas. Portanto, sentir repulsa ao ler Lolita é quase um mecanismo de defesa: não tem como ler as descrições de uma "ninfeta", carregadas de erotismo, e não se sentir, no mínimo, ofendida (o).
Quem nunca leu esta obra deve ter a imagem que o cinema nos formou sobre a Lolita - uma garota safada, que provoca o homem mais velho, seu padrasto. No entanto, ao ler o livro, o que mais me embrulhou o estômago foi ver como Humbert, a personagem principal, manipula e coíbe Lolita a ser seu objeto de fetiche, contra a vontade dela na maior parte do tempo. Humbert tenta nos convencer de o que ele faz não é errado e a quebra dos paradigmas vem da argumentação dele.
Quem nunca leu esta obra deve ter a imagem que o cinema nos formou sobre a Lolita - uma garota safada, que provoca o homem mais velho, seu padrasto. No entanto, ao ler o livro, o que mais me embrulhou o estômago foi ver como Humbert, a personagem principal, manipula e coíbe Lolita a ser seu objeto de fetiche, contra a vontade dela na maior parte do tempo. Humbert tenta nos convencer de o que ele faz não é errado e a quebra dos paradigmas vem da argumentação dele.
Ele se baseia em exemplos históricos, fatos e dados estatísticos para mostrar a um suposto júri (do qual o leitor faz parte) de que está tudo bem com a sexualidade dele. E esta é a parte realmente assustadora da obra.
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A Nina, do blog Nina é Uma, fez um post muito interessante sobre literatura LGBT. Para quem se interessa por este tipo de assunto/debate, podem ler o texto dela aqui. Ah, e ela também tem fanfics com o tema, que podem ser lidas aqui.
A Nina, do blog Nina é Uma, fez um post muito interessante sobre literatura LGBT. Para quem se interessa por este tipo de assunto/debate, podem ler o texto dela aqui. Ah, e ela também tem fanfics com o tema, que podem ser lidas aqui.
E você, tem algum livro para recomendar neste assunto? Comente aí! (:
2 Comments
Oi, Ruh!
ResponderExcluirEu já li Lolita e se ele tornou um dos meus livros preferidos, pelo teor psicológico incutido. Adorei o fato de o personagem ficar convencendo o leitor de que era inocente. E a história, em si, também é muito válida. Todo mundo julga o cara, mas, a meu ver, a garota foi muito conivente com a situação, também. Ainda não li nada do Hemingway, mas não sei se tenho tanta vontade de ler. Gosto muito da poesia do Caio, mas nunca li nenhum livro dele, queria ter uma recomendação e, mais uma vez, você acabou de fazê-lo: tá anotado, Morangos Mofados está na minha lista de futuras leituras! ^^ Obrigada por me citar! Espero que o pessoal vá conhecer meu trabalho! :)
Love, Nina.
http://ninaeuma.blogspot.com/
Procurei uma lista desse estilo no google há pouco tempo e não achei muita coisa. Adorei as indicações, ouvi falar bem do Lolita!
ResponderExcluirhttp://glifeblog.com/