foto by Natalie Fong |
O meu sonho, desde criança, é ser escritora: não só que os outros me
reconheçam como uma, mas principalmente que eu me veja assim. Mesmo sem ser
conhecida, mesmo sem ser publicada, mesmo sem saber como tudo funciona. Ainda
assim, na essência, uma escritora.
Costumava não saber a diferença entre crônica e conto, entre estória e
história. Não conhecia os trâmites para um livro chegar ao mercado e, na
realidade, pouco me importava com isso. Não gostava de vender, a mim ou aos
meus livros, como um produto que merece ser adquirido - e ainda não gosto. Não
escrevia resenhas e nem me preocupava em saber qual era o livro do momento.
Aparentemente,
de vez em quando, para ser reconhecida como uma escritora, todas essas
irrelevâncias são realmente necessárias. E eu, que busco na escrita e na ficção
um refúgio do mundo e um encontro de mim, acabo por encontrar muito do primeiro
e quase nada do segundo.
Aí bate
aquele cansaço danado, no fundo do pensamento, ali perdido e sem rumo na
encruzilhada de inutilidades que o mundo gosta de arranjar. Até onde devo
continuar tentando a profissionalização de um sonho? Ou será que devo deixá-lo
quietinho, descansando no canto infantil da minha história? Faz quinze anos que
escrevo e não estou nem perto de saber como responder estas perguntas.
Continuo
escrevendo porque é o que mais amo fazer: é onde e quando sou a melhor parte de
mim, a mais fundamental e elementar. Desde imaginar à escolher cada palavra
cuidadosamente, é um trabalho quase artesanal que me preenche do começo ao fim.
Se é que tenho um deles. Não sei se sou uma boa escritora, mas sei que sou
genuína. O que sai através do lápis é autêntico e puro, mesmo que seja ingrato
ou impopular. E sei menos ainda sobre meu futuro nisso tudo.
Todo dia,
eu tento, nem que seja um pouco, transformar o sonho em algo menos escondido e
mais aventureiro. Com isso, me sinto viva e alerta. Mas há dias, ou períodos
grandes e entediantes, que sinto que tudo é em vão. Oito livros e meio
guardados dentro de mim, ou com medo do fracasso ou porque não conseguiram
atenção de ninguém. Dói, sabe?
Mas acho que descobrimos qual é nossa real paixão quando continuamos
acreditando nela mesmo depois que o mundo inteiro te diz que não.
3 Comments
Lindo o texto, profundo e cheio de questões que me fizeram refletir antes, durante e depois da leitura. Os anseios e as dúvidas estão em mim diariamente quanto a "gostar de escrever e ser uma escritora", mesmo que não tenha publicado uma história só minha, mas acredito que o amor pela leitura me faria desistir de qualquer outra coisa. Sei que amo escrever, porque sem as palavras eu não estaria completa. Quanto as denominações dos outros, pouco me preocupa.
ResponderExcluirhttp://mundo-restrito.blogspot.com.br
@rs_juliete
Seu texto foi lindo e combinou um pouco com o momento em que eu vivo. Escrevo fanfics (histórias em cima de livros já existentes) há cinco anos e, recentemente, estou tentando levar a sério e escrever o meu primeiro original. E é tão difícil profissionalizar um sonho, né? Parece que tornar aquilo a sua profissão deixa tudo mais chato, mas monótomo. O meu maior medo nesse processo todo é perder a essência e passar a escrever porque eu preciso escrever, e não porque eu eu amo fazer. Gostei muito do seu blog e, se me der licença, vou bisbilhotar algumas coisas =)
ResponderExcluirBeeijo grande
Jéssica
http://www.estoriasecafe.com/
Oi, Ruh!
ResponderExcluirAhhh, que lindo você escrever sobre isso! Combina muito com a fase que estou passando (embora a minha seja positiva). Hoje em dia, finalmente, posso dizer que sou escritora. Não tenho livros publicados, mas acho que ser escritor vai além disso. A partir do momento em que passamos nossas emoções para o papel, tornamo-nos aptos a encarar esta profissão que, por vezes, é, sim, muito ingrata. Engraçado como as pessoas ainda acham que escrever é fácil. Creio que ser escritor seja encarado como a profissão de Jornalista: todo mundo pensa que qualquer um pode fazer, pois, segundo meu próprio irmão (se referindo ao Jornalismo) "é coisinha fácil". Mas então fico pensando: se fosse tão fácil, não existiria cursos que capacitassem esses profissionais. Aqui no Sul, há uma pós-graduação em Escrita Criativa (meu sonho fazer!) e, por sorte, a minha região valoriza a leitura e os escritores. Hoje, felizmente, não se morre escritor indigente (internet, eu te amo!). Mas, realmente, ser um escritor reconhecido, é outra coisa. Acho válido sabermos vender nosso produto, afinal, por mais que alguns digam que escrevem para si mesmos, deve ser uma baita mentira. Quem é que gasta horas escrevendo para ninguém ler seu material??? E discordo de você, para ser escritor apenas temos de escrever. Ninguém vai ligar se não soubermos todas essas coisas que você listou. E, caramba, você tem oito livro e meio contigo? Parece eu, haha. Coleciono estórias em documentos do Word. Você sabe que, embora muita gente dirá não, sempre haverá aqueles - talvez, poucos - que dizem sim e é por isso que vale à pena sermos quem somos! :D
Love, Nina.
http://ninaeuma.blogspot.com/