A idéia do Desafio das Cartas veio do Paperia e consiste em escrever uma carta por mês, durante um ano, a pessoas importantes da sua vida. Lá no Paperia, as cartas são escritas à mão e enviadas pelo correio (idéia linda!) e eles sugerem o tema de cada mês. Aqui, as cartas serão em forma de posts e escolhi outros temas, com a identidade do Perplexidade e Silêncio.
5/12 - Uma carta a um desconhecido
À Você,
Não sei seu nome e, mesmo que eu soubesse, isso significaria muito pouco, porque ainda assim não conheceria você direito.
Não sei onde você mora, tampouco o que faz para ganhar a vida, nem sua idade, menos ainda sobre o seu passado. E tudo isso - mesmo o passado - também me diria muito pouco sobre você. Talvez me contasse algo sobre seus erros e suas escolhas anteriores, mas nada disso me explicaria quais são os seus erros e escolhas de agora - errar sempre erraremos, escolher sempre escolheremos, mas ao longo da vida fazemos alguns ajustes.
Não sei do que você gosta, mas fico muito curiosa em saber do que você não gosta. Acredito que aquilo que odiamos ou nos desconforta diz muito mais sobre quem realmente somos do que aquilo que gostamos. Gostar é tão simples, tão fácil - des-gostar, dependendo do contexto, exige muito mais esforço.
Não temos uma amizade e, mesmo que tivéssemos, talvez eu ainda não te conhecesse por inteiro.
Não temos um relacionamento, nem somos casados ou temos filhos e, mesmo assim - mesmo assim! - talvez eu ainda não te conhecesse por inteiro.
Porque é impossível conhecer uma pessoa do começo ao fim. Somos todos pequenos oceanos, cheios de reentrâncias e cavernas escondidas, e a imprevisibilidade faz parte da essência de cada um tanto quanto a água ou o oxigênio.
Desta forma, esta carta pode ser para qualquer pessoa, para todas as pessoas, que passaram e que não passaram pela minha vida, pois todos nós somos desconhecidos.
Todos nós somos estranhos uns aos outros.
Inclusive eu.
Acompanhe o {desafio das cartas} aqui.
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