Você foi feita da gota de água.
Brilha quando enxerga a luz do sol, reflete pequenos cristais no ar e tem uma existência eterna - que parece eterna, mas que nem sempre sobrevive até o amanhecer. Você foi feita de uma pequena gota de água, tão frágil e tão delicada que não sei se posso encostar em você.
E se eu te derramar toda pelo chão e te perder?
Você, provavelmente, viraria uma bela flor, daquelas brancas e de pétalas curtas, mas então não seria mais você inteira - e não te quero pela metade. Não gosto de nada pela metade.
Acho que foi da água que criou-se seus braços e pernas, corpo e pescoço, se esgueirando pelo mundo em busca do movimento perfeito, da leveza desumana, de uma alegria serena e simples. Como uma gota que é completa em si mesma, encerrada em seu pequeno universo molhado.
E, se assim for, quero que você se espalhe. Que se esparrame, que se torne uma fonte, que se junte a um rio. Espero que cada abertura de braços e cada ponta dos pés alcance aqueles lugares escuros e secos que as pessoas tem medo de ir.
Porque é um privilégio ser feita de gota de água quando a maior parte da realidade foi construída em pedra e fogo. Tudo sempre tão concreto e tão perigoso.
Quero que você chova.
Uma chuva fina, constante e fria.
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