Quando o tempo passa, a vida acaba, a paixão esfria e os caminhos seguem, quem é o último a sair e apagar a luz? Sempre tem alguém que ouve tudo até o fim, escreve as conclusões, faz da dor uma linda poesia, ao mesmo tempo em que checa se as janelas estão fechadas e bate a porta, joga a chave fora, e tenta não pensar no vazio que ficou ali.
Mas acredito que são felizes aqueles que se despedem com meias palavras, frases incompletas, deixando atrás de si uma vírgula e não um ponto final. Da vírgula sempre há mais história, e há aqueles que preferem acreditar que podem enganchar sentimentos como quem pendura roupas no armário. O sofrimento vem com a mesma intensidade que vai embora, e os términos nem machucam tanto assim. Invejo esse desprendimento das incertezas da vida porque, ao contrário, sou apegada nos compromissos que crio nas minhas fantasias.
Quando a pagina vira, a explicação é muda e o coração é surdo, sou quem tira a poeira dos móveis, desencosta recordações que vão para o lixo, troco as roupas de cama e começo uma nova vida. Às vezes, preciso atear fogo em uma foto ou duas para sentir que o ritual de reinício da montagem da minha história realmente começou. Desligo o gás, tiro os fios das tomadas, deixo tudo em ordem: faço uma mala pequena, somente com o necessário, e vou reconstruir os pedaços de um coração partido.
Quem é que devolve o brilho das estrelas quando elas parecem apáticas? Quem é que restitui ao céu a magia de ser de noite, ter Lua, Vênus dizer olá de vez em quando? Quem pode colocar, no meu chá morno da tarde, um pouco de cor e de constelação?
Demora um tempo (longo e de inverno) mas sempre chega alguém: quem encontra o pedaço de céu que perdeu-se pelo caminho. Quando o sorriso murcha e a alma encolhe, sempre tem alguém que ri como criança, brinca dentro da imaginação e da impossibilidade das coisas, escolhe a roupa mais colorida, o vaso de flores mais romântico, o travesseiro mais macio.
Aquele tipo de pessoa que entra em casa, redecora como bem entende e invade teu espaço com amor e carinho. Espalha corações, livros e lápis de cor. Aumenta o volume da música e devolve a vontade de comer doce. Elas são raras, mas - nossa! - como é bom saber que elas existem.
Sempre tem alguém que te traz chá de estrelas com biscoitos para o café da tarde.
E joga conversa fora como se não houvesse fins no mundo.
1 Comments
Ter esse desprendimento é fácil e difícil. É um desprendimento de quem já aprendeu que tudo muda e que as vontades nunca são alcançadas. De quem descobre que não adianta fazer planos em cima do planos dos outros. Um desprendimento de quem aprende que "ainda há sol lá fora"
ResponderExcluirUm desprendimento de quem descobre que as pessoas sempre precisam de alguém para ajudar a levantar as cadeiras e cobri os moveis, e que vc precisa estar pronto pra isso.
Espero que sua nova fase seja iluminada e desejo do fundo do meu coração que não precise mais fazer essa mudança.
Mas sempre que precisar, de alguém q escreva, de um guarda chuva ou de uma tequila com doritos, estarei aqui. =)