3/6 - Veridiana


*Trilha sonora do post: Ruby's Tuesday - Rolling Stones*

Ela estava cansada pois havia andado muitos quilômetros aquele dia. Vinha de longe, de muito longe, e não tinha um objetivo específico: o destino era tão somente ir, e aproveitar o que viesse. O passeio era o passear em si, estar sem rumo era o caminho a seguir, e era de uma liberdade sem fim.

Viu uma praça e resolveu ficar ali um pouco. Sentou em um banco à frente de um jardim bonito, com aspecto de que cada florzinha fora plantada por donas-de-casa das redondezas, e ela sentiu um delicioso gosto de família no céu da boca. Colocou sua mala ao lado do banco, seu mapa e sua câmera no colo, e contemplou:

Que ela observava tudo, absorvia tudo, mas não pertencia a nada. Que ela lia as pessoas com uma facilidade assustadora, percebia muito do que elas tentavam esconder, mas mantinha-se secreta e fechada para todos. Que ela fugia de si mesma, perdida pelo mundo, tentando encontrar sabe-se Deus o quê. E, principalmente, que ela havia feito da solidão sua companheira oficial, desistindo de uma vez por todas de tudo.

Não ter nada a perder garantia-lhe liberdade. Em sua frieza e desapego, ela descobrira algumas respostas e construíra uma saída para curar suas (tantas) feridas.

Uma criança que passou correndo a despertou de suas reflexões. Ela vestia-se conforme o costume daquele lugar e isso a fez lembrar-se de onde ela estava. Também a fez lembrar que ela precisava decidir para onde iria dali.

Ela não iria a lugar algum - não pelos próximos minutos. Essa era sua maior qualidade: a coragem de não se preocupar nem por um segundo em como seria seu futuro.

Os outros posts da série:
1/6: Virgínia

0 Comments