Já Li #193 - Marcação, de Fríða Ísberg

 


Em 2016, viajamos para a Islândia e, deste então, passei a ter curiosidade em ler a literatura deste país. Foi assim que cheguei na ficção especulativa Marcação, de Fríða Ísberg.

Caso você tenha curiosidade, aqui no Perplexidade e Silêncio temos estes posts sobre a Islândia:

Na história, a cidade de Reykjavík, capital da Islândia, está dividida por um muro de acrílico. De um lado, aqueles que se submeteram ao teste de marcação; de outro, os que ainda lutam contra o que consideram um mecanismo de polarização e preconceito. A marcação é uma avaliação de empatia criada para prever comportamentos antissociais e, consequentemente, apontar pessoas que podem eventualmente cometer algum tipo de crime. O enredo acontece às vésperas de um plebiscito que decidirá se esse teste de marcação deve se tornar compulsório ou não.

Ao longo de todo o livro, o leitor começa a entender os impactos e as consequências da marcação. Estabelecimentos comerciais, restaurantes, bairros e escolas começam a proibir a entrada de pessoas que não passaram ou não fizeram o teste. Aos poucos, a coisa se complica, e estas pessoas também ficam sem acesso a financiamentos, moradia e emprego. O discurso oficial do governo diz que estas pessoas não devem ser excluídas e, sim, buscar o apoio psicológico gratuito, mas se recusa em endereçar o fato que suas políticas promovem a discriminação e o isolamento.

A história acompanha a vida de alguns personagens e como o teste afeta a vida deles. Amigas de longa data, Tea e Laíla trocam cartas se alfinetando a esse respeito. Ólafur Tandri é um psicólogo influente que sempre desejou fazer do mundo um lugar mais justo. Na escola de um bairro marcado, a professora Vetur enfrenta frequentes crises de ansiedade, mesmo tendo a seu favor uma medida protetiva determinada pela polícia contra o ex-namorado Daníel. Tristan, um rapaz na casa dos vinte anos que faz uso abusivo de substâncias entorpecentes, corre contra o tempo para se livrar do teste e acaba envolvido com o movimento ativista antimarcação.
Os capítulos alternam entre estes personagens. E eu amei que Fríða muda o jeito de escrever em cada capítulo, para que o estilo da escrita esteja condizente com a personalidade do personagem.

Eu fiquei com a sensação que Tristan é o protagonista do livro, uma vez que ele exemplifica toda as consequências do teste na sociedade. Desesperado para conseguir financiar um apartamento antes da obrigatoriedade do teste, ele se envolve com os mais diversos tipos de ilegalidade, uma vez que é única opção restante para os párias da sociedade. Ele também mostra quão ineficiente é a ajuda que o governo dá, desde consultas ridículas com psicólogos até o poder viciante do Trex, "remédio" fornecido pelo governo para curar a falta de empatia.

Sobre a premissa do teste de empatia, achei bastante criativa. Já li inúmeras distopias e ficções especulativas ao longo dos anos e achei uma ideia interessante, ainda que me lembre "Minority Report" em alguns aspectos. Acho que Fríða trouxe uma visão de um futuro muito possível, e esta credibilidade que deixa a leitura boa, porque é algo que podemos imaginar que realmente aconteça em nossa sociedade. Eu adorei o livro e recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5

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