O livro "Eu sou a Lenda", de Richard Matheson, foi publicado em 1954. Desde então, quatro adaptações para o cinema já foram feitas, e a mais famosa é de 2007, com Will Smith no papel principal. Como gosto muito deste filme, decidi ler a obra origina e este post falará de ambas.
Richard Matheson, falecido em 2013, ficou conhecido pelos contos de horror e terror, e também por escrever roteiros para o cinema. Seu estilo de escrita é sucinto e sem firulas, privilegiando a ação.
"Eu sou a Lenda" é uma obra de ficção-científica inspirada pelo universo dos zumbis e de eras pós-apocalípticas. Robert Neville é o único sobrevivente de uma pandemia que transformou as pessoas em seres próximos aos vampiros.
A estória se inicia narrando a rotina de Robert para manter os vampiros-zumbis afastados de sua casa. Como Richard tem um estilo de escrita bastante econômico, requer do leitor um maior esforço de imaginação e concatenação dos fatos para entender o que está acontecendo. Logo de início, Robert é retratado como alcóolatra e depressivo - o que, aliás, não é muito surpreendente, uma vez que sobrou só você no mundo com várias criaturas querendo te matar.
As criaturas do livro tem todos os atributos que caracterizam um vampiro: saem somente depois que o Sol se põe e são combatidas com alho, estacas, crucifixos e espelhos. O antigo vizinho de Robert, Ben Cortman, é sua maior ameaça. Robert já tentou matá-lo diversas vezes, mas Ben sempre ressuscita. Aos poucos, aparecem flashbacks da vida de Robert, quando ele se lembra das caronas que pegava com Ben para ir ao trabalho e também se lembra de sua esposa, Virgínia, e de sua filha.
Robert decide estudar as causas da pandemia, de forma a encontrar uma forma definitiva de extermínio das criaturas. O enredo leva a crer que trata-se de alguma contaminação sanguínea, por bactérias ou germes. O clímax da estória acontece com o aparecimento de Ruth, uma outra pessoa que, como ele, sobreviveu à pandemia. Ela tem as respostas que Robert não pôde encontrar e traz uma perspectiva completamente nova para Robert.
O filme baseado na obra foi dirigido por Francis Lawrence, o mesmo diretor dos quatro filmes de Hunger Games.
O enredo do filme segue basicamente a mesma linha da obra de Matheson, mas a principal diferença está nas criaturas. As criaturas do filme estão muito mais próximas do que conhecemos como zumbis e, por isso, achei eles mais interessantes e assustadores. Lendo o livro de Matheson, às vezes achava a noção dos vampiros um pouco ridícula, principalmente quando Robert fazia os preparativos envolvendo o alho e as estacas. Assim, quando Francis Lawrence optou pelo caminho dos zumbis, achei uma escolha sábia e mais adequada.
Outro upgrade que o filme fez na estória é sobre a causa da pandemia. No livro, a pandemia tem uma explicação que não me convenceu, mas no filme há uma exploração mais científica e futurista para a causa.
Em contrapartida, preferi a personagem Ruth, do livro, em relação à Anna, interpretada pela Alice Braga no filme. Ruth, na estória de Matheson, traz um aprofundamento essencial para a narrativa, transformando a estória em uma ficção-científica interessante. Já no filme, tenho a sensação de que Anna serve apenas para ressaltar o heroísmo de Robert Neville, interpretado por Will Smith. O ator é conhecido por escolher papéis onde possa ser heróico, o que também modificou a personagem de Robert que, no livro, não tem nada de herói. Neste sentido, prefiro as personagens do livro, que são mais complexas e menos clichê do que as personagens de sua adaptação para o filme.
Esta mudança de personagens também resvala na família de Robert. No livro, ela aparece em flahshbacks curtos e não muito reveladores de como era a vida deles antes da pandemia. No filme, o Robert de Will Smith - heróico, paizão e corajoso - traz uma nova família para o enredo, com outro background e outro final.
E senti falta da cachorrinha Sam. No filme, ela é a melhor amiga e companheira de Robert, seu único alívio em um mundo solitário e pós-apocalíptico. No livro, o cachorro não tem nome nem nenhuma representação afetiva e aparece apenas por um capítulo. Assim como a transformação de Robert de alcoólatra a herói, acho que a inserção de Sam veio para trazer maior apelo comercial ao filme.
O livro ou o filme? Embora o filme tenha alterado vários elementos, como mencionei acima, para tornar a estória mais agradável ao grande público, preferi o filme ao livro. Achei o filme mais emocionante e intrigante, preenchendo buracos que Matheson deixou com sua escrita sucinta. E mesmo a mudança no personagem de Robert me agradou, pois permitiu que eu me vinculasse mais a ele. Senti falta apenas de Ruth, que foi o ponto alto do livro, na minha opinião.
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