Todo mundo tem uma opinião polêmica sobre alguma coisa. No meu caso, embora tenha lido todos os volumes de A Guerra dos Tronos, não gosto de George R. R. Martin. E, ainda que eu seja uma fã de ficção-científica, não gosto de Arthur C. Clarke. Neste post, tentei dar mais uma chance para o autor e falarei sobre "Os Náufragos de Selene".
Primeiro, um pouco sobre o genial Arthur C. Clarke. Quando criança, ele construiu seu próprio telescópio e, desde cedo, se interessou por Astronomia. Mais tarde, foi especialista em radares da Força Aérea Real Britânica e, anos depois, foi condecorado Sir pelas suas contribuições tecnológicas. E, no fim da vida, mudou-se para o Sri Lanka, lugar que inspirou o cenário de "As Fontes do Paraíso". E enquanto realizava tudo isso, ele escreveu 33 livros, incluindo o famoso "2001: Uma Odisséia no Espaço".
"Os Náufragos de Selene" foi publicado em 1961. Na estória, o homem colonizou a Lua, que se transformou num dos principais pontos turísticos de pessoas entediadas na Terra. O lugar mais visitado é o Mar da Sede, uma enorme extensão de poeira lunar que é "navegada" por uma espécie de barco, chamado Selene. A poeira, fininha e compacta, é plana, mas ainda assim os turistas sentem como se estivessem no mar aberto.
O fato de Arthur C. Clarke achar que isso aconteceria no século 21 - ou seja, o século em que estamos - mostra que ele tinha muito mais fé na evolução da Humanidade do que deveria.
O livro começa com 22 passageiros a bordo do Selene. Aqui começa o meu primeiro problema com o livro e que, infelizmente, vai permear todo o enredo: o machismo.
Todas as personagens masculinas são comandantes, engenheiros, cientistas, físicos ou intelectuais, enquanto há apenas duas mulheres: uma que é descrita como gorda de uma forma pejorativa, e outra que é apenas a esposa de alguém.
O piloto de Selene, Pat - um homem, claro - não consegue ver a tempo que há algo estranho acontecendo no Mar da Sede e, quando o terremoto no leito do Mar se intensifica, Selene é soterrado pela poeira. A poeira bloqueia os sinais de rádio e os registros de calor e, assim, eles ficam lá, enterrados.
Em paralelo, equipes na Lua e na Terra tentam desvendar o súbito sumiço de Selene, o que se prova um grande fiasco. Erro atrás de erro das equipes, a situação dentro do Selene vai ficando pior conforme a comida e o oxigênio são consumidos. Preciso dizer que todas essas equipes são compostas apenas por homens?
Aqui tive outro problema com a leitura: Arthur C. Clarke perdeu uma grande oportunidade de fazer uma experimentação sobre o ser humano. Não houve nenhum conflito digno de registro e ele age como se o capitão Harris, que ajuda Pat no acidente, fosse um Deus que consegue anular todas as emoções negativas das pessoas. Arthur é conhecido pela sua hard-sciencie fiction e não pelas suas personagens. Então, se você não é bom escrevendo sobre pessoas, não tente escrever sobre elas, oras.
As cenas dentro do Selene foram tão frustrantes que eu quase desisti de ler.
Mas eu desisti mesmo da leitura quando Arthur C. Clarke escreveu que as mulheres a bordo do Selene só poderiam ajudar limpando a nave ou fazendo a comida.
Sim, fiquei até vermelha de tanta raiva.
É sério mesmo que esse cara é venerado? Faça-me o favor.
Foi o mesmo sentimento que eu tive quando li o péssimo "O Jogo do Exterminador" de Orson Scott Card.
Eu sei que muitos leitores não se incomodarão com estes machismos justificando que o livro foi escrito nos anos 60. Espero que estes leitores se identifiquem com outros blogs, porque aqui não tolero esse tipo de coisa.
Assim, minha conclusão da resenha é: se você quiser ler uma boa ficção científica, há opções muito mais inclusivas, interessantes e com tramas que realmente prendem o leitor.
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