Já Li #45 - Os Filhos de Anansi, de Neil Gaiman


Fazia um tempinho que eu não falava de algum livro do nosso querido Neil Gaiman. Recentemente, li "Os Filhos de Anansi" e, embora este livro não seja a melhor obra de Gaiman na minha opinião, ainda assim tem seus méritos. 

Neil Gaiman é um escritor que dispensa apresentações. De qualquer forma, falei mais sobre ele neste post, caso você queira maiores informações. 

"Os Filhos de Anansi" foi originalmente publicado em 2005 na Inglaterra, chegando no ano seguinte ao Brasil. Gaiman usou de base a mitologia de Anansi, uma lenda africana. Na lenda, Anansi, o Deus Aranha, rouba as histórias do mundo de Nyame, o Deus do Céu. Anansi queria as histórias para contar ao povo de sua aldeia, pois a Terra estava triste sem histórias para contar. Nyame cobrou um preço alto pelas histórias e Anansi nem hesitou em pagar. A partir daí, as histórias voltaram para a Terra. (Para ler a lenda completa, clique aqui).

Charles Nancy, conhecido por todos como Fat Charlie, leva uma vida tranquila e pacata em Londres, é bastante tímido, introvertido e desajeitado. Em muitos aspectos, Fat Charlie lembra Richard Mayhew, o protagonista de "Lugar Nenhum". Ele é contador na empresa Graham Coats Agency, onde não vê nenhuma perspectiva de crescimento. Um dia, ele recebe a notícia que seu pai, Sr. Nancy, faleceu, e ele precisa ir à Flórida para o enterro.

O leitor, neste momento, é apresentado à infância de Fat Charlie. Ele sente vergonha de seu pai, que tinha uma personalidade excêntrica e que, frequentemente, colocava Fat Charlie em situações embaraçosas. Pela ocasião do funeral, Fat Charlie reencontra um grupo de senhoras que eram amigas de seu pai e que cuidavam dele quando ele era criança. Uma delas, a Sra. Callyanne Higgler, revela que o Sr. Nancy, na realidade, é Anansi, o Deus Aranha.

Também similar a Richard Mayhew, Fat Charlie recebe notícias e acontecimentos extraordinários com aceitação e conformismo. Assim, quando a Sra. Higgler lhe diz que, para entrar em contato com seu irmão - que até então Fat Charlie não sabia que existia - basta pedir a uma aranha, ele pede sem questionar e nem se surpreender com os resultados.

O chefe de Fat Charlie, Graham Coats, é o Deus Tigre, que aparece na lenda original de Anansi como um dos seus antagonistas no roubo das histórias. Isto só fica claro ao longo da leitura, depois que Graham comete corrupções e assassinato e desempenha o papel de vilão do livro.

Seu irmão, Spider, é o oposto de Fat Charlie. Spider é bonito, desenvolto, comunicativo e extrovertido, e chega dominando todos os aspectos da vida de Fat Charlie. Spider começa a se passar por Fat Charlie e, assim, rouba o emprego e a namorada dele, Rosie, apenas para se divertir.  Quando Rosie resolve abdicar de sua virgindade por Spider, Fat Charlie tem o auge de sua indignação e retorna à Flórida, para buscar ajuda da Sra. Higgler. Juntos, eles performam um ritual para expulsar Spider da vida de Fat Charlie, mas este ritual tem consequências bastante exóticas na vida de todos.

Fat Charlie assiste aos eventos sem grandes reações, apenas alguns ataques eventuais de revolta, o que me incomodou bastante (embora eu entenda que Gaiman quis ressaltar a personalidade submissa de Fat Charlie). Richard Mayhew tinha seus conflitos em meio ao mundo mágico ao seu redor, ao passo que Fat Charlie parece não caminhar em direção a uma evolução. Achei um protagonista chato e, às vezes, tedioso. O que me motivou a leitura foi Spider, que trazia emoção e ação ao enredo.

Na parte final do livro, Gaiman se redime, trazendo um Fat Charlie mais interessante e revelações inesperadas sobre a trama. 

Ainda sobre as personagens, também achei que, tanto o Sr. Nancy quanto Rosie, poderiam ter sido melhor exploradas pelo enredo. O Sr. Nancy, por ser o próprio Anansi, apareceu pouco. Rosie perde terreno para sua mãe que, em uma cena de ação engraçada com o vilão Graham Coats, rouba a cena e a atenção. Rosie, em si, é insípida.

De forma geral, foi uma leitura que me agradou. Gaiman trouxe seus cenários imaginários e oníricos, característicos de seu estilo, assim como um pano-de-fundo mágico inovador e surpreendente. Estes elementos seguraram minha atenção quando as personagens principais não foram capazes de fazê-lo. Além disso, os diálogos espirituosos também são interessantes e dão um certo alívio cômico à trama.

Não é o melhor livro de Gaiman, mas é um livro bom.

Para saber sobre outros livros do Gaiman, veja abaixo:



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