Vi por aí muitas comparações deste livro - O Mapa de Vidro, de S. E. Grove - com a trilogia Fronteiras do Universo, de Philip Pullman. De fato, existem diversas semelhanças entre ambas, pelo menos no que diz respeito a estrutura narrativa e temática. E, para minha surpresa, gostei mais deste livro do que os de Pullman.
S. E. Grove é uma escritora ainda pouco conhecida no mercado editorial e sua profissão é historiadora. Depois de viajar o mundo a trabalho, ela decidiu escrever uma trilogia sobre exploração, cartografia e aventuras, e disso saiu a série Mapmakers. O Mapa de Vidro é o primeiro livro desta trilogia, seguido por The Golden Specific e The Crimson Skew, ainda não lançados em português.
A estória gira ao redor de Sophia Tims, filha de dois exploradores aventureiros que se perderam na última expedição e nunca mais voltaram para casa. Depois deste desaparecimento, Sophia foi criada por seu tio Shadrack, um cartógrafo experiente e dedicado. Eles vivem em um mundo que sofreu a Grande Ruptura, explicada no prólogo do livro: em um determinado momento da História, o Tempo se fragmentou pelo mundo e, como consequência disso, cada país/região ficou em uma timeline diferente. Ou seja, há lugares que estão na Idade Média, outros lugares estão na década de 30, outros estão ainda na Pré-História, e assim por diante. Desta forma, os exploradores não apenas viajam entre lugares, como também viajam entre as diferentes Eras do planeta, tentando descobrir o que gerou esta Ruptura do Tempo.
Shadrack é um cartógrafo que estuda, desde a época da Universidade, as explicações para este acontecimento. Um dia, Sophia chega em casa após uma tarde de compras e descobre que ele foi sequestrado e que toda a casa deles foi revirada e saqueada. Em meio aos escombros, ela encontra um garoto chamado Theo, que veio de uma das Eras distantes e estava preso em um circo da cidade. Juntos, eles decidem ir atrás de Shadrack e resgatá-lo. Um pouco antes do sequestro, Shadrack estava ensinando à Sophia que existem diversos tipos de mapas diferentes, cada um desvendando e codificando uma parte desta "colcha de retalhos" temporal que o planeta se tornou. É aí que o leitor é apresentado ao Mapa de Vidro, responsável por catalogar e organizar as memórias das pessoas.
Em sua aventura para resgatar Shadrack, Sophia começa a descobrir uma série de fatos e pessoas completamente novas à sua realidade. Ela, acostumada a viver em uma grande cidade, onde os eventos temporais não foram tão fortes, se depara com diversas situações completamente novas: conhece piratas, reis, botânicos, atravessa continentes, precisa confiar em Theo e acaba indo parar nas Terras Baldias, o lugar mais afetado pela Grande Ruptura e cheio de criaturas míticas. Sophia e Theo são perseguidos pelos Homens de Areia, que estão a serviço da vilã Blanca. Blanca sequestrou Shadrack na expectativa que ele tivesse acesso à carta mayor.
S.E.Grove criou um universo muito rico e particular, o que tem seu lado positivo e seu lado negativo. Existem muitos conceitos e premissas que o leitor precisa absorver em pouco tempo. Além dos mapas em si e do funcionamento de cada um deles, o leitor também é apresentado à configuração política de Novo Ocidente (onde Sophia mora), a história do reinado das Terras Baldias, a procura pela carta mayor (um mapa que controla o passado, presente e futuro do mundo), o passado dos piratas e aliados de Shadrack que Sophia conhece pelo caminho, as criaturas chamadas Lacrimas, a noção de ruptura temporal e a falta de noção de tempo de Sophia (que se assemelha a uma doença). Grove, então, para explicar tantas coisas, se vale dos diálogos, onde as personagens mais velhas e mais experientes da estória vão explicando tudo o que está acontecendo para Sophia e Theo. Tais diálogos, às vezes, tornam-se cansativos, pois tem uma função didática muito óbvia e direta, distraindo o leitor da cena em questão.
Mas, uma vez superado esse excesso de informação do enredo, a leitura flui e torna-se muito agradável. O universo fantástico criado por Grove é muito original e autêntico, com elementos imaginativos muito coerentes e bem amarrados entre si. A saga de Sophia para encontrar seu tio é de tirar o fôlego e ela é uma personagem bastante cativante, assim como Theo. O livro me despertou uma grande vontade de explorar este mundo e, principalmente, as Eras. Portanto, é uma leitura que recomendo muito, pois alia ação e fantasia, e pretendo ler os próximos volumes da trilogia.
Se você já leu este livro e quer deixar seu comentário, vou adorar saber! (:
4 Comments
Há anos eu estou doida pra ler esse livro! Mas nunca tinha reparado que de fato pode lembrar um pouco Fronteiras do Universo.
ResponderExcluirEu AMO viagens no tempo e a ideia de um planeta dividido em várias Eras, ao mesmo tempo, é algo incrível. Estou muito curiosa para saber como isso funciona na narrativa.
Sua resenha me deu ainda mais vontade de ler agora hahaha
Quando programei este post, lembrei de você, porque tinha visto no seu Skoob que você queria ler. Mas aí esqueci de te avisar que tinha postado, ainda bem que você veio aqui! (:
ExcluirTô até hoje pra ler os livros do Pullman, porque adoro o filme. Vejo sempre no sebo, mas aí tenho medo de me arrepender (que bobagem, né? haha). A temática de ambos é muito boa e gosto muito desse tipo de fantasia. Com certeza leria ambos. Não vi muita relação entre as duas séries, apesar de que só sei a história do primeiro livro de Pullman. O Mapa de Vidro parece até mais interessante, com essa coisa do tempo e países com timelines diferentes (amei isso!). É só um livro esse, né? Não é uma série? Porque prefiro assim, ultimamente haha. Com certeza, anotei e vou procurar! <3
ResponderExcluirLove, Nina.
http://ninaeuma.blogspot.com/
Oi Nina,
ExcluirEste é o primeiro volume de uma trilogia chamada Mapmakers, mas infelizmente não publicaram ainda em português os próximos volumes. Fico muito triste com isso, porque quero continuar a série!