Galeria de Fotos #17 | O dia que resgata a poesia

Sinto falta, todos os dias, da sensação de acolhimento. Viver em uma cidade grande faz isso conosco, acredito eu. Todos ficam absorvidos pelas diretrizes da vida moderna - horários, preocupações, aplicativos - e, se resolvemos olhar para o céu, as estrelas estarão perdidas entre poluição e atrás  de prédios mais altos que meu coração.
Mas não hoje. Hoje, minha rua esteve fechada e fomos abençados pelo silêncio dos carros passando. Livre daquele zumbido de fundo permanente de mil automóveis apressados, me senti mais leve. Hoje, este barulho foi substituído por centenas de crianças brincando com seus pais, uma multidão de cachorros com seus latidos alegres e pessoas espalhadas pelos espaços na rua. 
Uma das atrações disponíveis na rua foi poder participar da exposição da artista japonesa Chiharu Shiota. Ela fará três instalações sobre memória e trajetória e, em uma delas, ela colocará cartas que as pessoas escreveram. Escrevi uma, ganhei um coração de crochê, e fui embora feliz. 

Fiquei pensando, ao longo do dia, que não deveria ser assim tão raro eu me sentir tão bem. Que também não deveria ser tão raro podermos brincar na rua de casa sem preocupações, sem sentir-se inseguro ou com receio de alguma-qualquer-coisa.

Me bateu uma nostalgia tão no fundo do coração que até doeu um pouco. Pela raridade do sentimento, quero dizer. Não porque eu estivesse triste - muito pelo contrário.

Foi um dos dias mais lindos que vivi. Um daqueles que sabemos que ficará na memória por anos a fio e sinto que, a partir de hoje, todos os dias olharei para a minha rua e sentirei saudade deste clima amistoso.

Acho que não será só eu a me sentir assim. Vendo tanta gente sorrindo, tantas crianças correndo livres e tantas famílias parecendo uma só, posso garantir que não será só eu, de fato, a me sentir assim.

Gostaria de ter mais dias assim como o de hoje. Mágicos, fáceis e encantadores.

0 Comments