Já Li #4 - Duas Narrativas Fantásticas, de Fiódor Dostoiévski


Para ser sincera, não gosto de Dostoiévski. Aliás, não gosto das temáticas das suas obras, porque ele em si escreve bem e tem seu mérito. Li alguns livros dele, por pura teimosia (#taurina) mas não me vinculei a nenhum, até encontrar Duas Narrativas Fantásticas.

Dostoiévski, além de escritor, também era filósofo e transpôs muitas de suas reflexões sobre o homem e a sociedade em seus livros. Normalmente, ele explorou questões políticas, sociais e religiosas da Rússia de sua época (por volta do século 19).

Falando um pouco sobre este livro, trata-se de dois contos que ele escreveu para um jornal entre os anos de 1876 e 1881, "A dócil" e "O sonho de um homem ridículo".

No primeiro conto, "A dócil", um viúvo tenta compreender porque a esposa se suicidou. Ele tenta desmembrar passo-a-passo da vida conjugal deles, examinando os principais acontecimentos do casamento de vários ângulos distintos, imaginando qual teria sido o ponto-de-vista da esposa. O viúvo é um ex-oficial com fama de covarde e acostumado a ser humilhado em público. Após receber uma herança, ele abre um negócio próprio e, para compensar a vida de humilhação que teve, torna-se arrogante e frio, o que possivelmente causou o suicídio da esposa. A narrativa é bastante subjetiva e psicológica.

No segundo conto, "O sonho de um homem ridículo", um homem que estava prestes a se matar adormece e tem um sonho bastante surreal. Neste sonho, o narrador se vê em um mundo paralelo onde os humanos não criaram a maldade e a ganância e, por isso, ele percebe que gostaria de morar naquele lugar e que tanto a maldade quanto a ganância são as causas principais de sua depressão no mundo "real". Com isso, Dostoiévski faz um exercício - que hoje chamamos de ficção especulativa - de como seria a sociedade sem alguns princípios e valores que tomamos como inerentes do ser humano.

Os dois contos são narrados em primeira pessoa e o toque de fantástico fica por conta das alucinações e pensamentos das personagens, até o ponto de nós, leitores, não sabermos o que é realidade e o que é inventado pela imaginação deles.
É uma leitura densa, como tudo em Dostoiévski, mas boa pelas reflexões que proporciona.

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