Quando nada flui.


* Trilha sonora do post: Far way from here - Fabrizio Patterlini *

Passo o dia com a cabeça nas nuvens.
Aqui estou, criando pequenos cenários em seus mínimos detalhes, me refugiando em coisas inventadas e imaginárias, sonhando de olhos abertos sobre memórias que ainda não possuo. E passo o dia deste jeito, com a cabeça nas nuvens - lá em cima, bem lá em cima, está conseguindo ver? - pois a vida decidiu que não vai cooperar com meus planos, ultimamente (ou desde sempre?).

Desceu sobre mim o cansaço de ter que carregar o mundo nas costas. Ele não flui - não desliza suavemente sobre suas engrenagens - e eu, aqui do outro lado da máquina, preciso o tempo todo puxar e forçar e extrair e cutucar e lubrificar e tentar e empurrar. É um esforço contínuo e paciente, para que os planos se concretizem, para que as vontades se matem, para que os sonhos se realizem e para que a vida aconteça, mas hoje, ah!, por hoje chega. Quero largar tudo e seguir meu rumo.

Me sinto só, daquele tipo de solidão de sentir-se louco em um mundo de sãos, ou de ser são em um mundo de loucos. Daquele tipo de solidão de não estar na mesma sintonia, nem na mesma página, do que tudo ao seu redor. Uma solidão como se eu tocasse outra melodia, como se eu cantasse a música errada, como se eu estivesse no final do livro quando ninguém nem começou a lê-lo. É um descompasso e, por isso, passo o dia com a cabeça nas nuvens, como um balão que sobe sobe sobe.

Cresceu dentro de mim um enjôo na boca do estômago, uma dor de cabeça incessante e essa sensação de não ter para onde ir, quase ali na fronteira com a des-esperança. Me pergunto por que tudo precisa ser tão enroscado e complicado. Me pergunto se eu saberia ver a hora de desistir, caso ela chegasse.
Mas, se eu desistir dos meus sonhos, estarei eu me abandonando à própria sorte - já fiz isso uma vez, e foi por pouco que escapei viva. Não posso ir lá de novo.

Chega até mim essa sensação de "não quero estar aqui", mas, onde eu deveria estar?
Não faço a menor idéia. Não encontrei no mapa, não sei ler uma bússola e não entendo os pontos cardeais. Me atrapalho com "direita e esquerda" e não sei ver que horas são pela posição do Sol. E mesmo perdida continuo andando, sei lá para onde, sei lá com qual objetivo - a única coisa que sei é que larguei o mundo aqui no meio do caminho. 

E, daqui a pouco, me largo também, porque estou cansada até de mim.

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