Hoje abri a última gaveta, do armário à esquerda, peguei minhas armas e minha bandeira e fui ali na vida lutar por mim. Vesti minha farda, prendi o cabelo, abri bem os olhos (e mais ainda meu coração!) porque chegou a hora de lutar por mim.
Defendo a causa daqueles que tiveram o coração partido - por um homem, por uma mulher, pela família, pelo amigo imaginário da infância, pelo mundo lá fora - não importa. Cada um tem seu teco de coração faltando. E, principalmente, defendo a causa daqueles que tiveram o coração partido por si mesmos. Só nós, soldados de uma vida pela metade, entendem a coragem de continuar seguindo em frente.
Defendo a causa de quem se machuca e se tortura porque não se aceita por inteiro.
Não quero apontar defeitos, culpas, erros ou arrependimentos: quero apenas o direito de recomeçar. Luto pelo direito de acordar pela manhã com o coração inteiro, os sonhos de criança intactos, os olhos secos e a alma lavada e fresquinha. Luto pelo direito de amar de novo, sendo como sou, e deixar para trás toda dor e desencanto.
Luto pelo meu direito de ser romântica, de acreditar na eternidade de um amor puro e bondoso, de poder re-amar depois de ter aprendido a des-amar. Luto por aqueles que estão cansados e desesperados, pelo raio de Sol que descongela o coração, por pés quentes que me esquentem embaixo da coberta de noite.
Luto para ser eu mesma, sem me justificar, sem me desculpar, sem me sentir errada ou ameaçada. Carrego minha bandeira no ombro e sigo em frente.
Meu principal inimigo é o pré-conceito. Não quero ser enclausurada naquilo que errei no passado - não sou aqueles erros. Não quero ser definida e determinada para o resto dos meus dias, acorrentada em definições de mim que não escolhi. Quero viver minha melhor versão, aquela que fica escondida atrás de lágrimas e de angústias, aquela que fica sobrecarregada com o peso da realidade e da vida, aquela que poucos conhecem e amam.
Não sou violenta. A minha artilharia são palavras. A minha arma mais poderosa é ser quem eu sou. Não choro pelas batalhas perdidas, nem pelos corpos que ficaram pelo caminho: eu olho para frente, sempre, porque sei que não cheguei nem perto de vencer a guerra contra mim mesma.
Vou espalhando por aí o que tenho de melhor, o que tenho de mais profundo e o que tenho de feio. Sou inteira e não pretendo mais ser perfeita: não sou. Cada pedaço que ofereço é uma peça importante do que construí e tenho orgulho.
Não se assuste comigo. Só vou ali lutar e volto para casa logo.
Me espera. Fica por aqui que te conto as minhas vitórias, no final do dia.
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