Cedo ou tarde, a Tragédia aparece na história de cada um. Como se todos nós - sem exceção - tivéssemos um encontro marcado com Ela, e fosse algo inevitável e mesmo esperado. Não se trata de pessimismo: é só como a vida monta seu roteiro - a Tragédia é o plano de fundo, que nos faz torcer pelo herói, acreditar nele, enxergar além Dela.
A Tragédia já havia passado por ela. O que, de certa forma, é um alívio - aquela sensação de "o pior já passou" tem um poder macabramente satisfatório. Ela esteve de pé diante das ruínas, descalça, e decidiu caminhar. Não há coragem mais insana do que aquela que surge do Desespero. Porque junto com a Tragédia vem Ele, de mãos dadas, rindo perversamente, como que a zombar daqueles que insistem em ter esperança mesmo em meio ao caos.
Mas ela descobriu que podia ser forte quando ser forte foi sua única opção. E este é o precioso lado da Tragédia: ela ensina. Ela obriga você a vasculhar cada cantinho seu em busca de algo que te sustente. Ela obriga você a vasculhar cada cantinho da vida, e ela se viu capaz de observar borboletas coloridas mesmo quando a tempestade era forte.
A Tragédia deixa uma marca. Muitas vezes, funda. Na maioria das vezes, funda. E modifica o mundo de dentro - ah! Uma bagunça generalizada. Mas então ela acorda um dia e decide arrumar uma parte desta bagunça (pequena, mas importante). Depois mais um pedacinho. E outro.
E mais um. Como uma formiga que trabalha e não dorme.
E surge então aquele momento - completamente inesperado, e de uma luz perturbadoramente incrível - que as pilhas de bagunça do mundo de dentro não bloqueiam mais o sol. E ela olha o sol, e sorri. Observa aquele azul do céu tão bonito e tão sólido. Olha para cima e procura desenhos nas nuvens. Porque faz parte do roteiro da vida, depois da Tragédia, a virada: o herói supera. Luta.
Ela derramou lágrimas de felicidade. Lágrimas douradas, espessas, com pequenas estrelinhas dentro delas. E ela ficou perplexa e silenciosa, porque simplesmente não sabia o que fazer de si mesma. A versão dela feliz era algo raro, mas estava ali, sentada na sala.
Ela e as lágrimas douradas.
3 Comments
Through my bones and through my mind...
ResponderExcluirThrough my bones and through my mind...
ResponderExcluirDepois da tempestade vem a calmaria.
ResponderExcluirMas ñ apenas isso, o barquinho q resiste a tempestade, nesse caso, estará mais forte e olhará a calmaria do céu azul não com tédio e sim com agradecimento.
Lindo!