Acordo cedo, preparo um café da manhã às pressas, saio correndo para não perder a hora. A primeira máscara do dia é a de quem se empolga, se importa, se compromete com mais um dia-agitado-qualquer, com a hora, com o ônibus cheio, sem preguiça, sem demora.
A segunda máscara do dia é cinza e austera, imparcial e neutra, a máscara do "deve": deve fazer, deve produzir, deve conversar, deve interagir, deve estar ali. Mãos ágeis, raciocínio rápido e aquele sorriso de Monalisa que não penetra nos ossos - muito menos no coração. Tudo na superfície de um mundo que, no fundo, não faz a menor diferença.
A terceira máscara do dia é um verniz de cera, feito para proteger os outros, e eu mesma, do que realmente penso ou sinto. É como um escudo que carrego por aí no bolso e impede que as pequenas explosões no meu castelo cheguem ao mundo lá fora. Não vale a pena compartilhar centelhas e fogos de artifício em um cenário pobre, de pedra e cimento.
Vez ou outra, preciso desembrulhar uma outra máscara, aquela para os momentos que uma pessoa incômoda chega muito perto de mim: ah, se elas fossem mais atentas, veriam os lampejos de desconforto cortando os meus olhos. Seriam como alertas silenciosos de que meu espaço imaginário foi invadido - e meu coração se remexe inquieto dentro de mim, querendo ar. Querendo liberdade. É de um sufoco sem fim, quase uma máscara de gás.
Ao final do dia, quando não há mais nenhum "deve", quando estou sozinha em meu universo particular, me sinto quilos e quilos mais leve por tirar todas estas máscaras - elas vão sendo espalhadas pelo chão da sala, da cozinha, do quarto, enquanto me desnudo das personagens que não sou, das versões de mim que não gosto, das obrigações que me pesam a essência. Este, então, é o melhor momento do meu dia, quando vou me descascando e indo ao encontro de mim.
O grande segredo de manter a autenticidade, de não esquecer quem eu sou, é a pergunta que vem quando olho a imagem que aparece no espelho: eu realmente tirei todas as máscaras ou tenho mais alguma, secreta até para mim, que nunca tiro? Há dias que tenho uma particular dificuldade de responder a esta pergunta.
E penso que pode-se chegar ao ponto de construir uma máscara tão encaixada e tão coerente que até eu mesma não perceba que estou usando - então a culpa disso será minha, toda minha. Porque só eu posso me proteger do mundo e de mim mesma, ninguém fará isso por mim.
Vou ali garantir que, agora, neste segundo, sou só eu despejando palavras, e não nenhuma versão mascarada do que eu sou.
Vou ali me olhar no espelho e fazer a grande pergunta de todos os dias, ajeitando o rumo da minha vida, garantindo que sou fiel ao meu coração.
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