Já Li #144 - As Dez Mil Portas, de Alix E. Harrow

 


A resenha de hoje é um livro de fantasia cheio de dimensões paralelas, que promete uma leitura intrigante (além da capa linda, que chamou muito minha atenção). Mas será que a história entrega o que promete? É o que vamos discutir aqui hoje com a resenha de "As Dez Mil Portas" de Alix E. Harrow.

Fiquei interessada em ler Alix E. Harrow quando ela ganhou alguns prêmios literários com o conto que deu origem a este livro, que também foi sua primeira obra publicada, em 2019. 

"As Dez Mil Portas" é narrado em primeira pessoa por January Scaller no início do século XX (1900-1910), quando o mundo estava passando por uma fase de modernização e avanço de algumas tecnologias importantes. January, orfã de mãe, vive isolada em uma mansão aos cuidados do Sr. Locke, seu guardião oficial enquanto o pai viaja pelo mundo coletando itens valiosos que serão vendidos e/ou colecionados pelo Sr. Locke. 
January se sente muito sozinha e entediada na grande mansão, sem nada o que fazer, até o dia em que descobre uma porta azul no jardim, porta esta que rapidamente a leva a uma outra dimensão. A partir daí, January se envolve em uma missão pessoal de encontrá-la novamente, até que recebe a notícia que seu pai morreu, ao mesmo tempo em que ela encontra um livro que explica tudo o que está acontecendo, das portas ao desaparecimento do pai.

Sendo curta e grossa, não gostei do livro, e vou explicar porquê.
Uma confusão sem fim de histórias dentro de histórias dentro de outras histórias. O principal motivo de não ter gostado deste livro é que ele foi escrito de uma forma muita confusa. Temos a narrativa de January, em primeira pessoa; depois, temos outra narrativa em primeira pessoa, que é o livro que seu pai escreveu para ela, o tal livro que ela encontra quando ele supostamente morre; aí, chega uma terceira narrativa, em terceira pessoa, da personagem Adelaide; e, por fim, tem as micro-histórias de todas as portas encontradas ao longo da trama e o vai-e-vem entre as diversas dimensões paralelas. 
Eu fiquei perdida e entediada e, várias vezes ao longo da leitura, eu já não sabia mais quem estava narrando, de onde, quando e com que propósito. O conteúdo de cada narrativa não é dos piores, não me entendam mal, mas a edição e conexão de todos os pontos deixou muitíssimo a desejar. 

Os personagens coadjuvantes são muito melhores que os principais - Samuel e Jane.
Samuel, um amigo de infância de January, apaixonado por ela desde criança, decide segui-la através das portas enquanto ela procura pelo pai. Eu ia gostar muito mais do enredo se ele tivesse sido contado pelo ponto-de-vista de Samuel (ou do cachorrinho de January), porque January, em si, é chatíssima. 
Jane, uma moça enviada pelo pai de January para cuidar dela, é maravilhosa e merecia muito, muito, muito mais espaço. Aliás, ela merecia um livro só dela. Vinda de uma das portas, onde deixou dois maridos e uma esposa, Jane era uma caçadora que se vê presa numa mansão enorme com uma criança chata, esperando pelo dia que sua porta será reaberta e ela poderá voltar para casa.
Eles aparecem pouco, o que é uma lástima, porque eles eram as únicas personagens interessantes em todo o livro. Os supostos vilões - Sr. Locke e um outro que sequer lembro o nome, de tão irrelevante - foram tão mal escritos que chega a doer. Faltou muito desenvolvimento de personagem - saudades do mestre Brandon Sanderson, esse sim sabe escrever bons personagens.

A discussão racial/social mal conduzida também me incomodou muito. Eu aprecio que Alix tenha tentado trazer este tema para a história, uma vez que January, seu pai, Samuel e Jane sofrem preconceito por não serem "homens brancos ricos e privilegiados" em sua sociedade, estes últimos representados pelo Sr. Locke e seus colegas colecionadores. Mas, assim como os próprios personagens, este tema foi mal explorado pela escritora, que se limitou a comentar, aqui e ali, situações em que eles foram vítimas de tais preconceitos, porém sem grande conexão com a história geral. No final das contas, achei que este ponto ficou fraco no enredo, carecendo de uma melhor amarração com o resto.

E, por fim, o livro deveria se chamar "As dez mil analogias". Sério, qual o problema que Alix tem com analogias? Meu pai do céu, são centenas delas ao longo do livro, todas elas muito forçadas, ridículas até, o que deixa a leitura ainda mais chata. Eu me pegava rindo cada vez que uma analogia aparecia e até li algumas delas em voz alta para o meu marido, tamanha minha indignação.

Por tudo isso, como vocês podem perceber, não é uma leitura que recomendo.
Se você gosta de livros sobre dimensões paralelas, sugiro você conferir este post: Top 5 | Cinco livros sobre dimensões paralelas

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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