Já Li #141 - A Passa-Espelhos, Vol. 1: Os Noivos do Inverno, de Christelle Dabos


Este livro estava na minha lista de leituras fazia um tempo e, finalmente, li o primeiro volume da série A Passa-Espelhos, "Os Noivos do Inverno" escrito por Christelle Dabos. Se você gosta de histórias de fantasia ao estilo "Alice no País das Maravilhas", dê uma conferida nesta resenha.

Christelle Dabos, francesa, já foi bibliotecária antes de se dedicar totalmente à escrita. Seu primeiro livro publicado, "Os Noivos do Inverno" (2013), foi inspirado na obra de Marcel Aymé de 1941, onde o protagonista consegue ultrapassar muralhas para se deslocar e, eventualmente, usa essa habilidade para roubar banco e joelharias.

A série "A Passa-Espelhos" é composta de quatro livros e a personagem principal é Ophelia, uma menina que morava com a família em Anima e tem a habilidade de atravessar espelhos. Em Anima, as pessoas tem o poder de conversar com objetos, saber suas personalidades e ouvir o que eles tem a dizer. Ophelia consegue fazer isso também e, quando toca um objeto, seja ele qual for, ela consegue ver toda a história daquele objeto, desde seu primeiro dono, o que implica que ela descobre os segredos das pessoas que o tiveram ao longo do tempo.
Anima é uma das Arcas, uma das várias ilhas flutuantes que existem no universo mágico de Christelle. Cada uma das Arcas tem suas particularidades e sua mágica, bem como uma sociedade diferente das demais.

Em "Os Noivos do Inverno", Ophelia descobre que foi prometida em casamento a Thorn e terá que mudar-se definitivamente para outra Arca, a Pólo, conhecida por sua crueldade, violência e costumes bárbaros. Ophelia, uma menina "sem nenhum atrativo em particular", não entende porque foi escolhida para este casamento, já que Thorn vem de uma linhagem muito tradicional chamada Dragão. Não lhe é oferecida nenhuma escolha e, assim, junto com sua tia Rosalinde, ela é mandada para o Pólo sem maiores explicações.

Vou começar falando do que gostei. O sistema mágico criado por Christelle é bastante interessante, achei uma mistura de "Alice no País das Maravilhas" com "A Bússola de Ouro". No começo do livro, quando o tio de Ophelia entende o que a casa dele está sentindo, ou quando Ophelia lê os objetos antigos no museu, fiquei intrigada, assim como em saber como são as outras Arcas. É uma história fantástica com um quê de conto de fadas.
Também gostei da tia de Ophelia, Rosaline, que não teme Thorn nem a família do Dragão. Achei ela a personagem mais forte do livro e gostei quando ela aparecia. Ela era, ao mesmo tempo, um alívio cômico no meio da elite chata do Pólo e um choque de realidade, pois Rosaline parecia ser a única personagem incomodada com a babaquice sem limites de Thorn.
E, infelizmente, estes são os únicos pontos que gostei.

Eu odiei Thorn, e não de um jeito bom. Ele é forçado ao casamento tanto quanto Ophelia, então é esperado que ele não seja carinhoso com ela, mas o nível de grosseria dele beira o ridículo. Ele trata mal todas as pessoas ao seu redor, muitas vezes gratuitamente, e a justificativa do enredo para tanta babaquice é que ele é um filho bastardo e a elite do Pólo o rejeitou. Pois eu não comprei essa ideia. A falta de respeito dele com Ophelia e Rosalinde era tanta que comecei a ficar incomodada lendo, e num dado momento decidi começar a pular as partes em que ele aparecia, só para não passar raiva.
Além disso, o arco de desenvolvimento dele, pelo menos nesse primeiro livro, é péssimo. Eu esperava que Christelle fosse fazer com ele o que Sarah J. Maas fez com Rowan, mas não. Thorn só vai ficando mais e mais ridículo.
O que se conecta ao outro ponto que não gostei: Ophelia. Durante toda a leitura me perguntei o que de raios tinha de errado com essa menina, para ela se sujeitar a tanta humilhação sem reagir. Primeiro, a família dela a abandona em um casamento arranjado como se ela fosse um pacote, sem sequer se preocupar com o bem-estar da garota, e ela não abre a boca para contestar. Depois, no Pólo, Ophélia passa fome, sede, fica doente o tempo todo (porque está mal alimentada e trabalha feito uma escrava), apanha, sofre torturas, é humilhada por Thorn e por sua tia Berenilde o tempo todo, é manipulada por todos os personagens da trama... e não reage. Ela aceita tudo isso apenas com uma eventual reclamação aqui e ali. Ah, faça-me o favor. Num dado momento da leitura, eu estava mais é querendo que Ophelia sofresse mesmo.

Uma vez que não gostei dos dois personagens principais, todo o resto ficou muito difícil. Não consegui me entreter na história quando ela ficou mais complexa e fui perdendo o interesse pelo enredo. E mesmo os outros personagens de apoio, que poderiam ter tornado a narrativa melhor, eram rasos, todos meio parecidos, e foi ficando um livro chato de se ler. 
E, para piorar, Christelle não usou a técnica "show, don't tell". Ou seja, ela descreve o óbvio, repete muitas vezes as mesmas coisas, não estabelece uma profundidade ao narrar sentimentos e emoções e, no fim das contas, acaba adotando um estilo narrativo meio pobre. Um exemplo é quando Christelle se limita a descrever Thorn como um cara alto de pernas longas umas duzentas vezes ao longo do livro.

Eu comecei a ler esta obra determinada a gostar. Fazia um tempo que eu não lia uma Fantasia boa, então eu estava disposta a passar o pano, vamos dizer assim, a possíveis problemas. Porém, não rolou, e não é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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