Já Li #140 - Tudo que Deixamos para Trás, de Maja Lunde

 

A resenha de hoje é uma ficção-especulativa que reflete sobre o que aconteceria com o mundo se as abelhas deixassem de existir. Embora seja um romance, Maja Lunde fez um trabalho forte de pesquisa ao escrever "Tudo que Deixamos para Trás" e falarei um pouco sobre o resultado final dessa obra neste post.

Maja Lunde é uma escritora norueguesa que começou sua carreira de escritora com um thriller situado na Segunda Guerra Mundial. Ela ficou bastante conhecida no país depois disso e, na época em que "Tudo que Deixamos para Trás" foi publicado, ela já estava expandindo suas obras para os Estados Unidos, onde seu trabalho foi super bem recebido. Ela também escreve uma série de livros infantis que falam do aquecimento global.

"Tudo que Deixamos para Trás" foi publicado em 2017 e conta três histórias ao mesmo tempo, cada uma delas em uma época diferente. O ponto em comum entre as três épocas e os três protagonistas é que todos são apicultores e suas vidas giram em torno das abelhas.
Inglaterra, 1852, William: William tem uma família enorme (sete ou oito filhos e a esposa) e todos eles estão quase na miséria pois William não consegue mais trabalhar, aparentemente acometido por depressão. Depois de meses trancado no quarto sem sequer tomar banho, William reencontra seu próposito quando uma de suas filhas, Charlotte, propõe que ele retome os estudos das abelhas e construa um novo modelo de colméia.
Estados Unidos, 2007, George: George é um homem do campo, bastante prático e realista, às vezes rude e teimoso, que conduz um negócio como apicultor na zona rural do país. Seu negócio está sendo superado por fazendas de abelhas mais modernas e produtivas, mas ele se recusa a ceder à tecnologia, e prefere fazer as coisas "à moda antiga". George é um dos primeiros apicultores do mundo a presenciar o estranho fenônemo do desaparecimento das abelhas.
China, 2098, Tao: Tao, a única personagem feminina da história, é uma das trabalhadoras que artificalmente poliniza as flores, já que as abelhas não existem mais e os países precisaram encontrar formas de continuar com a polinização, para que a Humanidade não morresse de fome. Em um dia de folga, ela leva seu filho ao parque, onde ele sofre um acidente, é levado pelo Governo e desaparece misteriosamente da vida dela.

Por mais que o tema central da obra seja o desaparecimento da abelha e suas consequências, senti que a mensagem central do livro, na verdade, é sobre paternidade/maternidade. Os três protagonistas são péssimos nisso: William é completamente ausente da família e deixa todo o peso da vida doméstica para sua esposa, a quem culpa por seu estado de espírito; George não consegue se aproximar do filho, um jovem que busca a carreira de jornalista e não dá a mínima para o negócio da família, e cada tentativa de aproximação apenas afasta mais seu filho; Tao é uma mãe rígida que tenta forçar o filho a ser inteligente e estudioso, impedindo-o de se divertir e de experimentar o mundo.

William é um personagem entediante, para dizer o mínimo. Ele se ressente de não ter seguido no caminho das Ciências e coloca toda a culpa/responsabilidade na esposa "que não parava de gerar filhos". E, mesmo quando vê toda sua família passando fome - e, aliás, é sua esposa que ainda consegue manter todos vivos - ele não se importa com nenhum deles, só com seu antigo mentor que perdeu o respeito por ele quando seu primeiro filho nasceu.
Tao gerou zero conexão em mim. Eu até gostei quando ela resolve ir atrás do filho desaparecido, deixando para trás o marido apático e insosso, mas achei que ela não funcionou muito bem como a personagem que mostraria o futuro da Humanidade sem as abelhas. Maja usa sua busca como cenário para mostrar como o mundo ficou mas, como não me apeguei a Tao, também não consegui me conectar com a história em si.
E, por fim, George foi o mais interessante dos três. Senti dó dele, tentando se aproximar do filho e conseguindo exatamente o oposto. Vi um pouco da minha própria família nesta relação, então vai ver é por isso que gostei mais dele. Além disso, George tem um arco de desenvolvimento um pouco mais completo que os demais, o que me agradou.

Sobre a parte da ficção-especulativa em si, quando o livro terminou, fiquei com uma sensação de frustração, ficou faltando alguma coisa. Primeiro, porque a conexão entre os três persnagens é fraca e distante, não foi o suficiente para me surpreender ou me emocionar. Depois, porque o destino do filho de Tao é meio óbvio e acabou com o possível clímax. E, por fim, porque Maja não realmente aprofunda a especulação, que se limita a uma explicação no meio da história e algunas cenas com Tao.
Não é um livro ruim, até recomendo sua leitura, mas não é, nem de perto, incrível como li em algumas críticas.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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