Já Li #139 - Destinos e Fúrias, de Lauren Groff

 

No post de hoje, falarei sobre um livro que foi recomendação de leitura da rainha Elena Ferrante, "Destinos e Fúrias" de Lauren Groff. Se a rainha disse que o livro é bom, eu já concordo logo de cara. Então, confira a resenha completinha.

Publicado em 2015, "Destinos e Fúrias" foi planejado por Lauren Groff para contar um mesmo relacionamento sob dois pontos-de-vista. Por isso, o livro é dividido em duas partes: Destino, onde a história é contada através da perspectiva de Lotto, e Fúria, quando os mesmos eventos são relatados pela visão de Mathilde.
Aos 22 anos de idade, Lotto e Mathilde se conhecem numa festa e se apaixonam à primeira vista. Ele, super intenso, e ela, misteriosa e linda, formaram um casal perfeito que permaneceram juntos por mais de vinte anos. Lauren narra os principais acontecimentos deste longo relacionamento e como eles mudaram ao longo dos anos, saindo da juventude, passando pela vida adulta e tornando-se idosos. Em paralelo, Lauren mostra o futuro (ou o destino) dos amigos e familiares do casal, que em diversos momentos foram decisivos para que os dois permanecessem juntos depois de tantos altos e baixos.

Primeiro, quero mencionar o estilo de escrita de Lauren. Há momentos que são brilhantes, onde ela constrói frases lindas, descrevendo sentimentos e pensamentos dos personagens de um jeito que é complexo e profundo, bem agradável de ler. Porém, há trechos em que Lauren pesou a mão nesse estilo, com analogias meio forçadas e metáforas intermináveis, e esses trechos me distraíam. Eu sei que é tremendamente injusto comparar qualquer escritor(a) com Ferrante, mas é aqui que reside a genialidade da rainha, o tom dela está sempre certo na narrativa, não há esses excessos incômodos de Lauren.
Também acho que o estilo de escrita de Lauren combinou mais com a parte de Mathilde (Fúria), onde a voz da narrativa e a voz da personagem fazem sentido entre si. Na parte de Lotto (Destino), não vi coesão entre a forma de ver (e descrever) o mundo e a forma como Lotto experiencia esse mundo. Talvez Lauren pudesse ter adaptado um pouquinho o ritmo.

Sobre os personagens, tive dificuldade em me conectar com Lotto e, consequentemente, senti muita raiva pela ausência de reação em Mathilde. Lotto é mulherengo, mimado, tóxico, egoísta e instável. Se Lauren tivesse colocado mais generosidade, carisma e humor nele, tranquilamente poderia ser um personagem convertido em crush. Mas falta um "algo a mais" em Lotto, uma nova camada, um desenvolvimento, algo que o tire desse lugar linear onde ele fica o livro inteiro. Se torna chato e repetitivo depois de um tempo.
Esperei ansiosa pela parte de Mathilde porque imaginei que, nela, descobriríamos que Mathilde reagia sim às porcarias de Lotto, mas pelas costas dele. Que decepção quando vi que não, ela não faz nada demais. É verdade que ela esconde um super segredo sobre seu passado (ela foi prostituta e esterilizada) e que também omite o que a mãe de Lotto faz com ela, mas, fora isso, não há nada que tenha me feito simpatizar com Mathilde. 
No fim do livro, não gostei de nenhum dos dois e fiquei com uma sensação amarga de "esses dois lixos se merecem", rs.

Aí tentei cavar um pouco mais fundo e tentar descobrir qual é a mensagem que Lauren quer transmitir por trás de tudo isso. Lotto não tem talento e, para ser honesta, é um babaca completamente inútil, mas ganha fama e dinheiro com as peças que Mathilde o ajuda a escrever. Achei que havia um subtom de feminismo aí, mas é tão fraco que não vale a pena explorar. Depois pensei que Lauren quis mostrar como o casamento é difícil e que as pessoas sempre guardam segredos. Se for isso mesmo, milhares de livros e de filmes já exploraram esse conceito e Lauren não entregou nada realmente novo. 
Poderia ser uma história de libertação de Mathilde, o que ganharia meu coração de leitora imediatamente, mas isso também não acontece.
Então, no fim das contas, é um livro que não chega em lugar nenhum, e é frustrante perceber isso só depois que você termina de lê-lo e nota que nada acontece. O estilo de escrita de Lauren mascara um pouco essa falta de conteúdo, o rebuscado dela faz parecer que existe algo mais ali. Mas não há.
E, por isso, não é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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