Já Li #137 - Um de Nós Está Mentindo, de Karen M. McManus

 


De vez em quando sinto vontade de ler, especificamente, livros sobre crimes misteriosos. Não importa quão bom seja o livro mas, se for desse gênero em específico, parece que não me satisfaz como deveria. E fazia um tempo que eu vinha procurando uma leitura assim até que me deparei com "Um de Nós Está Mentindo" de Karen M, McManus e a resenha de hoje é sobre ele.

Publicado em 2017, o livro acompanha quatro personagens principais, através de capítulos narrados em primeira pessoa por cada um deles, de forma intercalada. São eles: Bronwyn, uma menina inteligente e estudiosa que quer entrar para Yale; Addy, coroada a Rainha do colégio e uma das meninas mais populares e bonitas de Bayview High; Nate, um garoto que está cumprindo pena em liberdade condicional por tráfico de drogas no colégio Bayview; e Cooper, o jogador de beisebol mais famoso do colégio e que tem atraído olhares de clubes profissionais.
Com exceção de Addy e Cooper, que tem amigos em comum, os demais não tinham nenhum tipo de relacionamento próximo recente até que ficam em detenção juntos quando tem seus celulares confiscados por um professor que abomina tecnologia. Os quatro justificam que os tais celulares sequer eram deles e não entendem porque ninguém desconfia que se trata de uma pegadinha ou de uma brincadeira de mau gosto. Eles cumprem detenção junto com Simon, que tem um app de fofocas sobre as pessoas de Bayview High e é conhecido pela crueldade das fofocas que publica. 
No meio da detenção, depois que um estranho acidente de carro chama a atenção de todos para o estacionamento do colégio, Simon bebe um copo de água e morre a seguir. Descobre-se, então, que o copo que ele usou estava sujo com óleo de amendoim, ao qual ele era alérgico. Simon estava sem sua caneta de adrenalina e todas elas haviam desaparecido da enfermaria, e ele não chegou vivo no hospital.
Após isso, os quatro jovens começam a ser investigados pela morte de Simon. Como cada capítulo é narrado por um dos personagens, o leitor vai entendendo, aos poucos, quem teria motivo para matá-lo (ou não).

Eu gostei da mudança de perspectiva a cada capítulo e acho que McManus fez um bom trabalho mudando a voz (ritmo, estilo de escrita, vocabulário) dependendo do personagem. Os quatro protagonistas são diferentes o suficiente entre si para que estas mudanças sejam perceptíveis conforme a leitura avança e isso me manteve entretida. 
Também gostei do arco de desenvolvimento de Addy que, para mim, foi de longe a personagem mais interessante da trama. Ela começa sendo uma sombra do namorado, Jake, o menino mais popular do colégio e se submete a todas as suas vontades, desde seu corte de cabelo até o que fazer no futuro. Quando o app de Simon publica que Addy teve um caso com um dos amigos de Jake, este último termina o namoro, o que acaba sendo uma libertação para Addy. Ela percebe como a personalidade de Jake a sufocava e oprimia e, pouco a pouco, descobre sua identidade. 

Até a metade do livro, estava até considerando categorizá-lo como "Sugestão de Leitura" aqui no blog. Parecia quase impossível descobrir quem tinha matado Simon e os "podres" de cada personagem começaram a aparecer, o que me deixou curiosa. Porém, da metade em diante, a qualidade da trama caiu muito e o livro passou de promissor a ruim.

Por exemplo: Brownyn. A fofoca envolvendo ela no app foi meio ridícula, na minha opinião. Envolvia ela ter tido acesso aos resultados de uma prova de Química e ela trapaceou. Sinceramente, não achei nada demais. Depois, tem uma segunda fofoca envolvendo a irmã dela que, de tão banal, eu sequer lembro qual era. Mas Brownyn (e todos os personagens) reage a ambas como se fossem o final do mundo e eu fiquei entediadíssima.
Depois, veio o romance entre Brownyn e Nate. Previsível, cheio de clichês e não agregou muito ao enredo. O romance entre eles fez Brownyn ficar com "sangue nos olhos" quando Nate foi acusado injustamente mas, sinceramente, não acho que ela precisava disso, ela poderia ter o mesmo estímulo por justiça só por causa de sua personalidade/identidade.
Também não gostei quando McManus usa a sexualidade de Cooper como fator chocante de movimentação da trama. Este livro foi escrito em 2017, não nos anos 80. Achei outro clichê.

Mas o que mais me incomodou mesmo foi a maneira como transtornos mentais foram retratados. 
Simon, Nate, Janae, Jake... A sensação que eu fiquei, quando terminei a leitura, é de que todos os personagens que tinham depressão (ou algum tipo de problema emocional) foram transformados em vilões. E, além dessa abordagem ser um desserviço para quem sofre com isso, ela também não combina com o tom geral do livro. Se McManus tivesse escrito uma obra densa, pesadona mesmo (ao estilo "Silêncio dos Inocentes" ou Gillian Flynn), até acho que poderia ter ficado bom, mas como ela escreve YA, não combinou nada com nada.
E, para completar, o mistério da morte de Simon em si não foi nada demais. Tanto suspense e "enrolação" para, no final das contas, ser um baita anti-clímax.
Por isso, não é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

0 Comments