6 Livros do Feminismo | 4/6 Mulheres, Raça e Classe, de Angela Y. Davis


Recentemente, li um guia chamado O Livro do Feminismo (série "As Grandes Idéias de Todos os Tempos" #14 da Editora Globo Livros) e ele foi tremendamente inspirador. O guia traz obras e mulheres inspiradores desde o séc XV até os dias atuais e aprendi muitíssimo com ele. Por isso, separei seis obras que contribuíram para a história e a evolução do Feminismo ao longo dos anos que eu faço questão que você conheça. Hoje, falarei de "Mulheres, Raça e Classe" de Angela Y. Davis.

Quem é Angela Davis?
Angela Davis, nascida em 1944, é um dos maiores nomes do feminismo marxista, uma variante filosófica do feminismo que mistura teorias de Karl Marx, que estudava e analisava as relações de classe na sociedade para compreensão da mesma. Por isso, Angela Davis costuma fazer conexões entre o capitalismo e suas formas de exploração da classe trabalhadora feminina.
Angela acompanhou de perto os efeitos da opressão e da divisão de classes na evolução da mulher. Ela tem três diplomas diferentes (dois nos Estados Unidos e um na Alemanha) e se especializou em ciências políticas. Ela já foi presa, já foi candidata a vice-presidente nos Estados Unidos, lutou contra o sistema prisional e foi diretora do departamento de Feminismo em uma universidade da Califórnia - e isso só citando os eventos maiores de sua vida.
Sem dúvida, Angela Davis é uma das vozes mais altas e presentes no movimento feminista e jamais perdeu a resiliência e a vontade de mudar um sistema, em sua opinião, falido.

"Mulheres, Raça e Classe" é um estudo feito por Angela em 1981, quando ela reuniu fatos históricos desde a época abolicionista dos Estados Unidos, para mostrar a relação direta entre o capitalismo, a divisão de classes e a opressão da mulher trabalhadora. Aqui, cabe adicionar uma explicação sobre o movimento feminista para que o livro dela seja melhor entendido.
Durante muito tempo, a luta feminista foi liderada por mulheres brancas da classe média e da aristocracia - tanto que o direito ao voto, no início, era concedido apenas para estas mulheres, excluindo as negras e as mulheres das classes mais baixas. Só depois o feminismo chegou às negras e às trabalhadoras, mas elas viam o movimento com amargura, uma vez que ele não representava sua realidade nem suas necessidades.
No estudo, Angela volta no tempo, mostrando que as escravas recém-libertadas, por exemplo, eram tratadas de forma ainda mais opressora do que as outras mulheres e, por isso, precisavam do dobro de luta para conseguir metade dos resultados. Ela também traz exemplos de feministas brancas preconceituosas, que não tinham a mente aberta para as necessidades das negras e das trabalhadoras. Há, inclusive, críticas à sua contemporânea de movimento, Gloria Steinem, cujo livro resenhei aqui.

Em uma prosa lúcida, Angela Davis descreve como a misoginia, o racismo e o classismo moldaram o caráter da vida social dos Estados Unidos, desde o século 18 até os anos 60. Ela presta atenção especial a como os movimentos sociais da classe média (dominados por brancos) esqueciam de serem solidários com os trabalhadores e os negros, aparentemente por uma questão de conveniência política, e destaca como os objetivos estreitos dos reformistas brancos permitiram que a opressão capitalista permanecesse intacta. 

Ao longo de treze capítulos sucintos, ela mostra os laços complexos entre os muitos sistemas desumanizadores de controle social e constrói um argumento visionário de cooperação entre todos os povos marginalizados. Apesar de listar uma série sem fim de datas, nomes e fatos históricos, a leitura flui bem, pois Angela compensa o teor acadêmico de seu livro com paixão, entusiasmo e raiva. Eu consegui sentir a enorme convicção de Angela atrás de cada palavra e sobretudo o capítulo sobre estupro me deixou reflexiva, angustiada e indignada.
Sem dúvida, é uma leitura que recomendo, pois se trata de uma baita aula sobre a luta de classes e sua relação/conexão com o feminismo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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