Já Li #124 - Um Lugar Bem Longe Daqui, de Delia Owens


Já comentei aqui no blog que um dos meus clubes do livro preferidos é o Hello Sunshine, da Reese Whiterspoon. Eles tem uma curadoria excelente nas escolhas de seus romances e, mais uma vez, me deparei com uma ótima recomendação de leitura. Hoje falarei sobre "Um Lugar Bem Longe Daqui", de Delia Owens.

Se você quer saber mais detalhes sobre este clube do livro (e alguns outros que também sigo), dê uma olhadinha neste post:
Top 5 | Cinco Clubes do Livro para você fazer parte

Delia Owens, além de escritora, também é zoologista (um ramo da biologia que estuda os animais). Assim, não à toa, o cenário de "Um Lugar Bem Longe Daqui" é uma personagem por si só, com explicações ricas e interessantes sobre a fauna e o ambiente da história. Ela e o ex-marido tem um passado controverso, relacionado ao período que fizeram pesquisas na África nos anos 90, quando foram acusados de caçar ilegalmente animais e, também, de racismo com os africanos. 

Em "Um Lugar Bem Longe Daqui", a narrativa alterna o passado e o presente da narrativa. No presente, a pequena cidade de Barkley Cove investiga o assassinato de Chase Andrews, considerado um cidadão-modelo e o melhor quarterback que a cidade já viu. No passado, acompanhamos a protagonista Kya, uma menina que é abandonada por toda a família em um barracão no brejo e que, dia após dia, precisa aprender formas de sobreviver à fome, à miséria e à solidão. A narrativa acompanha o crescimento de Kya: no começo do livro ela tem seis anos de idade e, lá pela metade dele, está com dezenove.
A história de Kya é de partir o coração. A caçula de cinco filhos, ela assiste a mãe se cansar da violência doméstica e ir embora pela estradinha de terra. Logo em seguida, todos seus irmãos fazem o mesmo, deixando-a nas mãos de um pai alcóolatra, violento e completamente omisso. Eventualmente, ele também vai embora, e aos poucos Kya percebe que não pode depender nem confiar em ninguém.
O único consolo de Kya é o brejo e seus animais. Ela estabelece um vínculo primordial, forte e intenso com a natureza ao seu redor, de onde não apenas tira seu sustento, como também extrai companhia. 
Todos na cidade tem preconceito com as famílias que vivem no brejo, e ainda mais em relação a Kya, que é vista como uma selvagem. A única pessoa que a trata como uma igual é Tate, que a ensina a ler, a escrever, a fazer contas e torna-se seu primeiro e grande amor. Assim, rapidamente a cidade chega à conclusão de que Kya matou Chase Andrews.

Embora seja classificado como um suspense, acho que este livro é, na realidade, uma história de coming-of-age e/ou uma história de amor. O leitor não pode esperar um ótimo mistério em relação ao crime, pois irá se frustrar. No fundo, Owens fala sobre a autodescoberta de Kya e como alguns aspectos do ser humano são inerentes a nós, independente da classe social, contexto, lugar ou época em que vivemos. Kya descobre o próprio corpo, sua identidade e sua sexualidade enquanto batalha para não morrer de fome e de frio. Em paralelo, ela tem dois relacionamentos - com Tate e com Chase - e estes relacionamentos servem como aceleradores deste processo de autodescoberta, para o bem ou para o mal.
Houve alguns momentos que não gostei de Kya (e li várias resenhas criticando-a como protagonista), mas depois de refletir um pouco percebi que é isso o que faz de Kya uma personagem boa. Ela me pareceu real, afinal, nós mesmos não somos agradáveis e razoáveis 100% do tempo, certo? Kya erra, é imatura, às vezes é incoerente, mas também me cativou com sua resiliência e sua coragem. E, acima de tudo, me partia o coração vê-la imersa em sua solidão, e me lembrou o sentimento que tive com outra indicação do Hello Sunshine, Eleanor Oliphant Está Muito Bem, de Gail Honeyman.

Eu só não gostei muito das partes iniciais sobre a investigação do assassinato de Chase Andrews. Entendi que foi proposital que Owens escrevesse o detetive e o policial como burros, talvez pela falta de experiência deles com crimes de assassinato numa cidade tão pequena, mas, mesmo assim, achei que eles foram burros demais, deixando a investigação sem graça e meio esquisita. Consequentemente, achei as partes do julgamento no tribunal super entediantes e, para ser sincera, eu pulei um capítulo ou outro. O tom do tribual não estava coerente com o tom do resto do livro e isso me incomodou um pouco. A parte final da narrativa parece fazer parte de outro livro, tanto no ritmo como na forma de escrever.

Mas, de forma geral, eu gostei da leitura, da evolução de Kya, de seu relacionamento com Tate e da sua profunda conexão com a natureza. E adorei o final aberto, onde não sabemos exatamente o que aconteceu (Chase foi assassinado mesmo? Por quem?), mas podemos inferir e assumir a partir de pistas deixadas ao longo do enredo. Fiquei pensando sobre isso alguns dias depois de finalizar a leitura e, por causa disso, é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

2 Comments

  1. Também achei o terço final meio entediante, e assim como você pulei alguns capítulos! Mas no geral o livro me agradou!

    ResponderExcluir
  2. Eu gostei do livro. Uma dica: Pousada Rose Harbor de Debbie Macomber.

    ResponderExcluir