Já Li #116 - Crianças do Éden, de Joey Graceffa


Seguindo no meu objetivo pessoal de ler todas as distopias disponíveis no mercado editorial atual, agora foi a vez de "Crianças do Éden", uma distopia YA escrita por Joey Graceffa. No post de hoje, trago a resenha desta obra.

Joey Graceffa é mais conhecido como YouTuber, onde ele tem três canais, que combinam um total de quase 2,2 bilhões de assinantes. Seu sucesso já rendeu contratos com empresas de cosméticos, aparições em filmes, roteirização de séries para o próprio YouTube e... este livro.

Publicado em 2016, é o primeiro volume de uma trilogia, cujos outros dois volumes foram publicados nos anos seguintes. A premissa é a seguinte:
Fora do Éden, a Terra está envenenada e morta. Todos os animais e a maioria das plantas foram destruídos por uma catástrofe causada pelo homem. Há muito tempo, o brilhante cientista Aaron Al-Baz salvou uma parcela da civilização ao projetar o EcoPanopticon, um enorme programa de computador que sequestrou toda a tecnologia global e a utilizou para preservar os últimos vestígios da humanidade. Os humanos esperarão milhares de anos no Éden até que o EcoPan cure o mundo. No momento da história, já se passaram 200 anos.

Em "Crianças do Éden" a protagonista é Rowan, a segunda filha em um mundo onde ter mais de um filho é ilegal. Rowan vive por dezesseis anos escondida dentro de casa, pois sua existência é um crime passível de morte para ela e prisão perpétua para seus pais. Ela vê e conhece o mundo lá fora através de seu irmão. Agora, inquieta e desesperada para ver o mundo, ela foge imprudentemente pelo que jura que será apenas uma noite de aventura, e se aproxima de Lark, a melhor amiga de seu irmão, por quem se apaixona. Porém, logo em seguida ela descobre que sua mãe encontrou uma forma de fazê-la ser "legal" em Éden, o que envolve doá-la a uma família nos círculos externos, onde vivem os pobres e marginalizados.

No início da leitura, gostei muito do tema pós-apocalíptico da história. Graceffa aborda de um jeito interessante as consequências do aquecimento global e gostei do tom de ficção especulativa que a narrativa teve em alguns momentos. Já a questão da tecnologia do EcoPan em si, não me atraiu - não sei se porque não entendi muito bem seu funcionamento ou se porque Graceffa fez uma escolha consciente de não entrar em detalhes no primeiro volume da trilogia, guardando um suspense que pode ter sido resolvido nos demais volumes. 

Tive momentos ocasionais de tédio e sonolência porque quase metade do livro é dedicada ao world building. O Éden é uma sociedade muito complexa, de modo que sua história e mecânica são amplamente explicadas a ponto de a história não ter muitos eventos/incidentes interessantes por vários capítulos. Porém, quando finalmente algo acontece com a mãe de Rowan, não há emoção. Graceffa tenta forçar o tamanho do acontecimento nos leitores, mas não convence, a sensação é de que ficou faltando alguma coisa - uma cena impactante, um diálogo revelador, ou mesmo uma maior construção da mãe de Rowan nos capítulos que antecedem o suposto clímax. 

Além disso, a escrita de Graceffa me incomodou muito. Falta técnica e profundidade no jeito como ele descreve sentimentos, pensamentos e emoções. Tudo fica muito exposto e explicado, sem nenhuma margem para que o leitor decifre, reflita ou descubra o que está acontecendo. E isso implica no parco desenvolvimento das personagens, culminando com meu total desprezo por Rowan. Ela em si não é uma personagem ruim, mas a forma como Graceffa a escreveu é. O mesmo acontece com Lark e, sobretudo, com a sociedade de Segundos Filhos subterrânea. Que potencial desperdiçado.

E, infelizmente, me deparei com todos os clichês que esperamos de uma literatura YA e que perpetua um certo pré-conceito que ronda este gênero. Quando digo isso, não falo apenas dos componentes desta distopia (romances, rebeldia, impulsividade, a protagonista sonsa é um "floco de neve" especial que não convence) mas também a própria estrutura do enredo. O trecho final é apressado e mal amarrado, o governo - antes tão totalitário e violento - é enganado/sobrepujado com uma absurda facilidade, falta peso e densidade às consequências dos atos dos protagonistas e, de repente, fim. 

Por tudo isso, não é uma leitura que eu recomendo.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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