O livro ou o filme? | Caixa de Pássaros, de Josh Malerman


Na discussão entre o livro e o filme de hoje, teremos a participação de nossa convidada especial Deborah Mundin e sua análise sobre a obra "Caixa de Pássaros" de Josh Malerman, recentemente adaptada pelo Netflix.


"Caixa de Pássaros" é um romance pós-apocalíptico que se transformou, pelas mãos da Netflix, em um dos thrillers mais comentados e memetizados em sua estreia. 

O livro, lançado em 2014, é a primeira obra publicada de Josh Melerman, e foi aclamado pela crítica. A trama se passa num mundo pós-apocalíptico dominado por “criaturas” que enlouquecem quem as vê, incitando a pessoa a cometer atos de extrema violência e, logo em seguida, a se suicidar. 
Somos apresentados a esse mundo através de Malorie, a personagem principal, que busca apenas sobreviver. A alternativa intercala flashbacks onde Malorie aparece grávida, com momentos do futuro, onde ela está cuidando de duas crianças. Não há muita informação sobre as tais criaturas e nem sobre o mundo ao redor.
O livro é escrito alternando o passado da personagem, dias antes e após o aparecimento das criaturas, com o presente, o qual ela precisa tomar a decisão de deixar sua atual relativa segurança para seguir por um rio, com as duas crianças, em busca de um lugar melhor.

Os direitos para fazer um filme foram adquiridos pela Universal em 2013, antes do lançamento do livro, mas só em 2017, com a Netflix adquirindo os direitos, foi que a película tomou forma. Dirigido por Susanne Bier e com um elenco substancioso como Sandra Bullock e John Malkovich, sua fama já estava pavimentada pelas boas críticas do livro. O filme explodiu em popularidade e foi impossível passar por 2018 sem cruzar com pelo menos um meme do filme nas redes sociais, mas aí vem a questão: foi para tudo isso?

O livro ou o filme? O livro.
Pois bem, vamos começar pelo livro.
Ele é de prender (e perder) a respiração. Como é narrado em primeira pessoa por Malorie, o leitor só sabe o que ela sabe e não há nada mais aterrorizante do que o desconhecido.
A forma como Josh costura as cenas, a angústia da personagem, as decisões morais e práticas que precisam ser tomadas - tudo isso é incrível.
A finalização deixa um pouco a desejar em um primeiro momento, já que intensidade do livro torna o final murcho. Mas, depois que pensamos sobre como as coisas aconteceram,percebemos que a estória não é sobre o mundo apocalíptico e nem sobre as criaturas, e sim, sobre a jornada de Marjorie e apenas isso. Com isso em mente, o final se torna mais aceitável.

E o filme?
Sandra Bullock e John Malkovich são atores sensacionais. Vale dar a chance para ver os dois em cena, mas a essência do livro se perde quando há essa troca de mídia.
O livro trabalha muito com o desconhecido, e o fato de não vermos o que está acontecendo ao redor é essencial para sentirmos a gravidade da situação e, em um filme, não é possível fazer isso. A diretora vez escolhas inteligentíssimas para representar isso, com cenas que vemos apenas a luz passando através de vendas, cena dentro de um carro com vidros pintados e até inserindo personagens que ofereciam risco físico, que faz o coração palpitar de ansiedade para que eles consigam fugir do perigo, mas mesmo assim a tensão meio que se perde.
O final continua murcho, bem fiel ao livro e podemos ter a mesma linha de pensamento sobre a questão da jornada em si.

Por isso escolhi o livro. Sem sombra de dúvida.


Deborah Mundin, além de convidada deste blog, também mantém o interessantíssimo Constantemente Inconstante. Além de parceira de vida, Deborah também me acompanha nas antologias que escrevemos para a Editora Wish.
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