O livro ou o filme? | Livre, de Cheryl Strayed


No debate entre o livro e o filme de hoje, a obra escolhida foi "Livre", de Cheryl Strayed, uma história autobiográfica que, nos cinemas, foi interpretada por Reese Whiterspoon.

Cheryl Strayed, atualmente com 50 anos, teve seu primeiro livro publicado em 2006, mas ela ganhou notoriedade mundial em 2012, com suas memórias autobiográficas em "Livre". Além dos livros, ela respondia, de forma anônima, perguntas sobre relacionamentos em uma coluna chamada "Dear Sugar", que tinha circulação apenas nos jornais The New Yorker.

Cheguei a este livro por causa da Lorelai Gilmore que, no revival de Gilmore Girls, tenta refazer os passos de Cheryl. Alguém acompanha a série para saber do que estou falando?! 

"Livre" é um registro das aventuras de Cheryl na Pacific Crest Trail (PCT). A PCT é trilha com mais de dois mil quilômetros que começa no deserto de Mojave e passa pela Califórnia, por Oregon e acaba em Washington. Enquanto narra as dificuldades que enfrentou para completar a trilha, há momentos de flashback onde Cheryl conta o que a levou até ali.

Não pude evitar de pensar que Cheryl é uma pessoa autodestrutiva, que sabota a própria felicidade vezes sem conta ao longo da vida. Ela casou-se aos 19 anos e, por três anos, ela e o marido vagaram pelos Estados Unidos sem moradia nem emprego fixo. Ela traiu o marido constantemente, com caras que mal conhecia, até que seu casamento terminou e, quando terminou, ela entrou em um período de castidade extrema. Se envolveu com heroína por causa de um namorado e continuou sem emprego fixo ou moradia. Com esta personalidade volátil, a gota d'água foi a morte da mãe, vítima de câncer aos 45 anos. Ah, e no meio do caminho, ela engravidou e abortou.

Depois da morte da mãe, Cheryl tenta reconstruir a vida pela milésima vez e decide se estabelecer em Oregon, quando finalizar a PCT, ainda sem saber onde vai morar e qual emprego terá na ocasião. Ela compra um guia sobre a trilha e, a partir dele, se prepara para percorrê-la, na companhia de Monstra, sua mochila absurdamente grande e pesada.

Em 2014, o livro foi adaptado para os cinemas por Jean-Marc Vallée. Reese Whiterspoon interpretou Cheryl Strayed de forma muito bonita. A atriz trouxe uma certa delicadeza para a narrativa, deixando o caos emocional de Cheryl mais acessível e poético. E, como o filme é basicamente composto apenas dela, Reese carregou muito bem a película nas costas, com todo seu drama e profundidade.
A adaptação foi bastante fiel em relação ao livro. Os acontecimento principais foram retratados em sua integridade. Houve, apenas, uma seleção de quais mochileiros Cheryl encontrou pela PCT, pois o filme se ateve àqueles que foram mais relevantes para o enredo (o que não é ruim).

Cheryl demorou três meses para completar a PCT. Neste meio tempo, foi atacada por cobras e ursos, ficou sem água, perdeu cinco unhas dos pés, ganhou uma pequena deformidade nas costas por causa de Monstra, fez sexo numa praia deserta e pensou muito em seu ex-marido e na mãe.

O livro ou o filme? O livro.

A trajetória de vida de Cheryl é muito confusa e isso, infelizmente, se refletiu em sua escrita. Os flashbacks aparecem repentinamente na narrativa e sem nenhuma organização. Eles poderiam ter sido agrupados por cronologia ou por núcleo (família, ex-marido, namorados), pois isso facilitaria não só a leitura como a compreensão da vida de Cheryl. Em vários momentos, não sabia se ela falava do ex-marido, do namorado viciado em heroína ou do irmão. Isso sem contar que me vi fazendo contas para conferir se os fatos batiam, pois a confusão era tanta que cheguei a pensar que Cheryl estava inventando coisas.

Por causa disso, quase optei pelo filme.  Mudei de idéia porque, depois de refletir um pouco, percebi que o livro é um registro cru do sofrimento de uma pessoa real e, por isso, não deveria ser nem estruturado nem organizado. Afinal, a vida não é assim, muito menos as nossas emoções e, tampouco, algumas escolhas que fazemos ao longo da vida. O filme fez um ótimo trabalho com a história de Cheryl, mas nada substitui o relato dela própria, muito honesta e autêntica e, sobretudo, intensa.


2 Comments

  1. Estou lendo o livro, mas o filme é tão perfeito e angustiante.

    Difícil escolher entre os dois.

    ResponderExcluir
  2. Vim pesquisar pq estou assistindo gilmore girls ;)

    ResponderExcluir