Já Li #73 - O Gigante Enterrado, de Kazuo Ishiguro


Conheci o escritor Kazuo Ishiguro através da ótima distopia "Não me Abandone Jamais". Assim, me interessei pela sua obra de fantasia "O Gigante Enterrado" e hoje a resenha é sobre esta obra.

Kazuo Ishiuro é tão condecorado que vale um parágrafo só para ressaltar os prêmios. Ele ganhou a Ordem do Império Britânico, é membro da Sociedade Real Britânica de Artes e da Sociedade Real Britânica de Literatura, além de um Nobel de Literatura e a Ordem do Sol Nascente japonesa.

E aí que, mesmo com todos estes prêmios, eu não consegui gostar de "O Gigante Enterrado" e fiquei com a sensação de que deve haver algo errado comigo.

Publicado em 2015, Ishiguro demorou dez anos para escrever este livro. Ele se inspirou em um poema do século 14 chamado "Sir Gawain e o Cavaleiro Verde". 

O tema principal deste livro é memória coletiva, ou seja, o conjunto de memórias que uma comunidade transmite de geração para geração, preservando suas origens, mitos, lendas e história. Ao mesmo tempo que a memória coletiva é preservada, o contrário também pode acontecer: quando uma comunidade passa por um trauma muito difícil de ser absorvido pelas gerações futuras, os acontecimentos tendem a ser esquecidos, até desaparecerem.

Desta forma, os protagonistas são Axl e Beatrice, um casal de idosos que vive em uma aldeia subterrânea e que partem para uma aventura em terras bretãs, na tentativa de reencontrar seu filho. Axl está incomodado com seus esquecimentos, tanto do passado distante quanto do passado recente. Ele começa a observar que toda a aldeia sofre destas crises de memória, esquecendo de pessoas e de fatos importantes da aldeia como se elas nunca tivessem existido. Um dia, ele resolve dividir sua angústia com Beatrice, que também havia percebido o mesmo. Juntos, eles se esforçam para lembrar do passado e, enfim, conseguem resgatar a memória de um filho, que eles não sabem como e onde está. Movidos pela necessidade de reencontrá-lo, eles deixam a segurança da aldeia.

Logo na passagem pela primeira aldeia da viagem, eles resgatam um menino que fugia de ogros, chamado Edwin, e são acompanhados por Wistan, um guerreiro saxão. A postura e conduta militar de Wistan começam a reavivar mais memórias em Axl.  Os quatro personagens prosseguem viagem, em direção a um mosteiro onde Beatrice buscará conselhos e sabedoria com o monge Jonus. No caminho, eles encontram Gawain, sobrinho do já falecido Rei Arthur, que faz muito mistério sobre sua missão e suas intenções.

Chegando ao mosteiro, Gawain revela que está em busca da dragoa Querig. O monge Jonus confidencia a Beatrice que a dragoa é responsável pela névoa que provoca as crises de esquecimento nas aldeias de toda a região. Beatrice é a favor de ajudar Gawain a destruir a dragoa e, assim, reaver suas memórias, enquanto Axl acredita que é melhor deixar algumas coisas caírem no esquecimento e, portanto, não incomodar Querig. No meio deste debate, Gawain arma uma emboscada para Wistan e Axl e Beatrice precisam fugir para manterem-se a salvo.

Gawain, bretão, e Wistan, saxão, então justificam o motivo da névoa do esquecimento. A dragoa foi enfeitiçada por Merlin, a pedido do Rei Arthur, para que as pessoas esquecessem a guerra entre saxões e bretões e, assim, toda a população pudesse viver em paz. Os dois guerreiros lutam e Wistan leva a melhor, acabando com o feitiço do esquecimento mas, ao mesmo tempo, reanimando as promessas de guerra entre os povos. 

O trecho central do livro não prendeu minha atenção. Quando Ishiguro narra esta aventura de Axl e Beatrice, achei que ele foi prolixo. Havia muitas descrições de cenários, o que jugo cansativo, e não consegui me vincular nem a Gawain e nem a Wistan. Como eles ganham destaque na trama, acabei ficando entediada, afinal, eu não estava nem aí para a rixa deles, e sim, queria saber qual o destino de Axl, Beatrice e seu filho. O estilo de escrita de Ishiguro também não me ajudou a retomar o interesse na leitura, com seus parágrafos enormes, falta de síntese e diálogos bobinhos. Durante muitos pedaços da obra, me senti lendo um livro infantil, sendo que eu estava esperando uma fantasia mais adulta e mais madura.

Agora, se você não deseja ler spoilers, sugiro pular o próximo parágrafo.
No final, Ishiguro retoma a narrativa de Axl e Beatrice. Como Axl previu, assim que as memórias de ambos retornam, eles descobrem que não eram um casal feliz antes do feitiço e que o filho, na realidade, já morreu. No começo do livro, aparece uma estória sobre um barqueiro que leva casais para uma ilha mágica, mas que, antes, precisa descobrir se o casal realmente se ama. Axl e Beatrice vão para a ilha e resolvem descobrir, de uma vez por todas, se o amor deles é verdadeiro ou não. 

Para mim, o livro deveria ter se concentrado apenas em Axl e Beatrice. O final, apesar de triste, é bonito e comovente. Assim, senti que a plot de Gawain e Wistan foi desnecessária e apenas atrapalhou a condução do enredo central. Também acredito que Ishiguro poderia ter escrito um conto ou uma noveleta, mas que a estória em si não justifica um romance, tornando-a longa e cansativa, de forma desnecessária. Por isso, infelizmente não é um livro que recomendo. 

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

Post relacionado:
O Livro ou o Filme? | Não me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro

0 Comments