12GLCGM | O Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris


O Desafio 12 Grandes Livros com Grandes Mulheres (12GLCGM) é uma homenagem às protagonistas femininas que deixaram sua marca no mundo literário, transformando a imagem da mulher, trazendo uma mensagem de empoderamento e força e promovendo reflexões. O Desafio surgiu desta lista com algumas adaptações. No post de hoje, teremos "O Silêncio dos Inocentes" de Thomas Harris.

Thomas Harris, em um período de 25 anos, escreveu quatro livros cujo personagem central é o Dr. Hannibal Lecter: "O Dragão Vermelho" (1981), "O Silêncio dos Inocentes" (1988), "Hannibal" (1999) e "Hannibal - A Origem do Mal" (2006). Mas, apesar disso a protagonista do post de hoje é Clarice Starling, de "O Silêncio dos Inocentes".

Clarice Starling ainda não se formou na Academia do FBI quando é chamada por Jack Crawford para ajudar em um caso. Crawford chefia a divisão do FBI que cuida de crimes e perfis psicológicos de serial killers e não tem conseguido obter relatos consistentes de seu prisioneiro mais famoso, o Dr. Hannibal Lecter. Assim, Crawford aciona Clarice Starling para interrogar Lecter, que tem a missão de levar alguns formulários e testes psicológicos para o prisioneiro. Lecter praticava canibalismo com suas vítimas, é bastante inteligente, sofisticado e lê o íntimo das pessoas com uma precisão e uma facilidade incríveis. Depois de alguns encontros, Starling percebe que a real intenção de Crawford é investigar os assassinatos cometidos por outro serial killer, apelidado de Buffalo Bill, com a ajuda das dicas e insights do Dr. Lecter.

Uma sexta vítima de Buffalo Bill é encontrada e Starling segue a equipe do FBI para fazer a autópsia da garota. Dentro de sua garganta, Starling encontra uma pupa (casulo) de mariposa e esta pista a levará mais perto de descobrir quem é Buffalo Bill. Starling confidencia sua descoberta ao Dr. Lecter e, pelas coisas que ele supõe do caso depois disso, Starling percebe que o doutor conhece pessoalmente Buffalo Bill. 

Enquanto isso, a filha da Senadora Ruth Martin, Catherine, é sequestrada e, pela forma como os acontecimentos se desenrolaram, o FBI suspeita que ela será a sétima vítima de Buffalo Bill. Em paralelo, Crawford passa por sérios problemas familiares e começa a perder credibilidade na investigação e, consequentemente, Starling é tirada do caso e orientada a retomar os estudos da Academia.

Em um primeiro momento, a análise de Starling como uma grande personagem feminina pode resumir-se ao fato de ela conseguir dialogar com o Dr. Lecter - coisa que ninguém tinha conseguido até então. De fato, isto é digno de nota, mas o mérito de Starling vai muito além disso.

Ela é a melhor aluna da disciplina de Tiro, desbancando todos os homens da turma com sua mira precisa e sua tranquilidade. Starling é uma personagem muito centrada, sempre focada nos resultados que estabeleceu para si e extremamente ambiciosa. Thomas Harris escreveu uma protagonista feminina que vai além dos clichês onde a personagem feminina "passa a perna" nas demais colegas ou usa de sexualidade para chegar onde quer. Starling é franca e retraída.

Além disso, ao longo do livro, Starling sofre assédios dos mais variados níveis e de vários homens da trama, tanto do FBI quanto dos órgãos que a ajudam, bem como do diretor do presídio psiquiátrico onde está Dr, Lecter. Fica claro, logo no início da estória, que Starling está inserida em um universo predominantemente masculino e branco e que precisará enfrentar muitas barreiras que lhes serão impostas simplesmente por ser mulher. Apenas Crawford parece levá-la a sério e enxergar todo o seu potencial, além do próprio Dr. Lecter.

Thomas Harris também conduziu de forma muito competente o encerramento do caso de Buffalo Bill. Starling relata que, para o caso ser resolvido, é preciso "pensar como uma mulher", ou seja, ter uma visão mais sistêmica da vida das vítimas: Starling reflete sobre seus sentimentos, seus pensamentos, seus anseios e sua rotina, o que a leva para pistas realmente relevantes para chegar em Buffalo Bill. Starling havia demonstrado no enredo estômago forte para lidar com cadáveres e mutilações, sangue frio para lidar com os assédios e desrespeito e, no fim, mostra sua sensibilidade e profundidade para compreender quem é o serial killer. Ou seja, ela é maravilhosa.

Catherine Martin também merece uma menção honrosa. Sequestrada por Buffalo Bill, ela luta até o fim pela sua liberdade e não deixa se abater pelo medo e pelo cativeiro. Longe de se portar como uma vítima de um serial killer, Catherine também foi ótima de se ler.

Nos próximos livros, Starling terá que enfrentar muitos obstáculos profissionais por ser mulher. Ela será renegada e prejudicada diversas vezes, só porque não é um homem branco do FBI, e isso a torna ainda mais interessante. "O Silêncio dos Inocentes" é um livro ótimo, que prende a atenção do leitor e fornece cenas de ação assustadoras e bem construídas. Gostei muito da leitura e, claro, amei Starling.

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