Já Li #64 - Os Lobos de Mercy Falls, vol. 3: Sempre, de Maggie Stiefvater


Este post é sobre o último volume da trilogia "Os Lobos de Mercy Falls", entitulado "Sempre". Escrita por Maggie Stiefvater, a trilogia termina deixando uma brecha para o spin-off "Perdido". Esta resenha é sobre o último volume e minha opinião sobre a conclusão da série.

A premissa desta série é uma lenda antiga onde os seres humanos ficam no meio do caminho entre pessoas e lobos, possuindo características de ambos e que, aos poucos, perdem completamente a humanidade e transformam-se definitivamente em animais. Maggie Stiefvater deixa claro, desde o início, que não se trata de uma história de lobisomens, portanto, não espere transformações com a lua cheia nem mortes causadas por balas de prata.

Para saber sobre os volumes anteriores, clique abaixo:

O terceiro volume começa do mesmo ponto onde o anterior terminou: Grace, a protagonista de toda a trilogia, finalmente transformar-se em lobo, na frente de seus pais, e desaparece na floresta. Sam, seu namorado e lobo, agora estável como humano graças a um experimento bem sucedido de Cole, espera os poucos momentos em que Grace é humana, momentos estes que ambos aproveitam para reconectarem-se e fazerem planos para um futuro incerto e improvável.

Sam é visto pela cidade de Mercy Falls como suspeito pelo sumiço de Olívia (amiga de Grace que transformou-se em lobo no volume anterior) e da própria Grace. Além disso, ele precisa conviver com Cole e sua personalidade impulsiva, negligente e volátil. No segundo volume, Sam já havia perdido seu posto de liderança na matilha de lobos pois enfraquece a olhos vistos quando Grace se transforma. Em "Sempre", Sam tenta resgatar o foco e o comprometimento com a matilha que tinha antes.

Em paralelo, o pai de Isabel - que ganhou expressão no volume anterior e tornou-se a melhor personagem da estória - decide juntar forças com um político poderoso e planejar a matança de toda a matilha de lobos de Mercy Falls. Como isto inclui o assassinato de Grace, Beck - o pai adotivo de Sam - e todos os amigos dele, Sam parece "acordar" de sua letargia e readquirir um objetivo.

Cole torna-se a peça central deste enredo. O distanciamento emocional da ameaça de matança da matilha permite que Cole se aproxime do passado de Beck e descubra que, há anos, ele e sua esposa, Hannah, sofreram uma ameaça similar em outra floresta e foram capazes de migrar toda a matilha para Mercy Falls. Para isso, foram necessários duas pessoas-chave: um lobo que mantivesse suas lembranças e emoções humanas e que fosse capaz de lembrar-se de um plano (Beck) e uma pessoa que fosse capaz de comunicar-se com este lobo e transmitir-lhe instruções (Hannah). Cole, então, monta toda a estratégia de retirada da matilha de Mercy Falls, contando com o amor existente entre Sam e Grace.

A sensação que tive ao ler a trilogia foi de que Maggie Stiefvater percebeu que "perdeu a mão" com Sam que, ao longo dos livros, foi ficando cada vez mais apagado e desinteressante. Sam é linear e previsível e o ápice de seu arco é superar o medo de água que adquiriu quando seus pais tentaram matá-lo afogado na infância. Maggie tentou desenvolver um conflito entre ele e Beck, fazendo Sam descobrir que Beck o transformou em lobo de propósito, mas este conflito não convence nem evolui. Por isso, o surgimento de Cole foi imprescindível para que a trilogia continuasse viva e dinâmica e, não à toa, ele ganha um livro só dele. 

Cole tem uma motivação envolvente, a de provar para o pai que é capaz de feitos grandiosos, e lida com seus impulsos autodestrutivos que nada tem a ver com seu lado lobo. Cole é o mais lobo de todo os personagens e o animal se encaixa perfeitamente na sua personalidade. Se não fosse por ele, a matilha não seria salva da matança e, tampouco, a cura para a transformação seria encontrada. Ele é o real herói da estória, e Sam deveria ser apenas um coadjuvante passageiro.

Grace tinha tudo para ser uma ótima personagem feminina, mas também não gostei de como ela terminou na trilogia. Introspectiva e melancólica, Grace combina muito com a pele de lobo e gostaria de tê-la visto mais na estória como o animal, quem sabe até tornando-se a líder da matilha. Seus poucos momentos como loba foram intensos e profundos. Porém, infelizmente, o final é previsível, meloso e clichê: ela quer abrir mão de ser loba para ficar ao lado de Sam.

De forma geral, esta trilogia não é o melhor trabalho de Maggie Stiefvater. Ela me conquistou com outros livros (que postarei abaixo) mas, nestes, me decepcionei. Seu potencial criativo e narrativo não foi bem aproveitado e, no final das contas, a obra é esquecível. Por isso, não recomendo a leitura desta série, mas recomendo a leitura dos seguintes títulos da escritora:


Avaliação do Perplexidade e Silêncio:  

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