Já Li #55 - O Perfume da Folha de Chá, de Dinah Jefferies




O livro resenhado de hoje é um romance de época, do início do século 20, passado no Ceilão e suas fazendas de chá: "O Perfume da Folha de Chá" de Dinah Jefferies.

Dinah Jefferies, atualmente com 69 anos, foi uma mulher à frente de seu tempo: lá pelos idos da década de 60, pegou seu filho recém-nascido, divorciou-se e juntou-se à uma comunidade de músicos itinerantes. Casou-se três vezes e teve mais três filhos. Seu filho mais velho, então com 14 anos, foi morto em um acidente na escola, tema que foi tratado em seu primeiro romance, "A Separação". Trabalhou como professora por anos, até que decidiu tornar-se escritora.

Seu segundo romance, "O Perfume da Folha de Chá", foi lançado em 2015. Nele, Gwendolyn Hooper (Gwen) é recém-casada com Laurence. Eles se conheceram na Inglaterra, onde Gwen morava, e rapidamente se apaixonaram. Laurence precisou retornar ao Ceilão, onde possui a maior e mais próspera fazendo de chá do país e Gwen o segue alguns meses depois. É deste ponto que o livro começa, no ano de 1925. No início da estória, Gwen sofre com a adaptação à nova cultura. O choque com a realidade do Ceilão a deixa desestabilizada, além do fato de ela ter um casarão para gerir com empregados que não falam inglês (e que parecem não respeitá-la). Gwen busca no marido um conforto para este momento de transição e para a saudade da família que ela deixou para trás, mas ele está sempre ausente trabalhando na fazenda ou distante, preocupado com as finanças da mesma. Nestas condições, ela faz amizade com Saji, um nativo que demonstra ter uma rusga do passado com Laurence.
Gwen começa a se deparar com segredos do passado de Laurence, que mantém-se distante e relutante quando ela aborda o assunto. Aos poucos, tanto Gwen quanto o leitor descobrem que Laurence tinha uma esposa que morreu, junto com o filho deles, Thomas. Laurence parece nunca ter se recuperado destas perdas e Gwen se vê na obrigação de salvá-lo.

Além disso, Gwen tem que lidar com a cunhada, Verity, que é doentiamente apegada à Laurence, e Christine, a sócia dele. 

Gwen começa a discordar das práticas administrativas adotadas com os mais de mil funcionários da fazenda de chá. Após salvar um homem que estava com o pé infectado e uma criança que quebrou a perna, Gwen cria inimizade com o segundo administrador da fazenda e com Verity, que acredita que ela está se metendo em "assuntos de homem". Mas o grande conflito da estória é sobre a gravidez de Gwen.

Se você não quer spoilers deste livro, pule este parágrafo. Gwen engravida de duas crianças, mas a grande surpresa é que cada uma é de um pai. O menino parece ser filho de Laurence, enquanto a menina parece ser filha de Saji, com quem Gwen teve uma relação sexual quando estava bêbada numa festa. Ela decide, então, mandar a menina para adoção, para que Laurence não descubra, mas a culpa pelos seus atos a atormenta. 

Como ponto positivo, Jefferies criou um excelente cenário do Ceilão. Inseriu informações históricas, contexto político e econômico, explicações sobre a fabricação de chá daquela época, bem como os aspectos culturais e geográficos do país. 

O livro tinha excelentes componentes dramáticos e potencial para tornar-se um grande romance, mas a personalidade amorfa de Gwen colocou tudo a perder. Seus esforços heróicos para salvar os funcionários da fazenda soam forçados. Além disso, Gwen reclama, o livro todo, dos segredos que Laurence guarda, quando ela mesma tem o segredo da traição com Saji e o segredo da menina. Aliás, Gwen é uma "reclamona" do começo ao fim do enredo, e também é submissa e apática. Jefferies pecou na construção de sua protagonista feminina e, por isso, a leitura tornou-se maçante e lenta.

Também achei que Jefferies deveria ter desenvolvido mais as duas antagonistas, Verity e Christine. Foram trezentas páginas esperando que elas fossem fazer algo importante e que revolucionasse a trama, mas nada aconteceu, o que foi frustrante. E, já que Gwen não as confrontava, fiquei com a impressão de que estas duas personagens não tiveram nenhuma função no enredo.

Quando o final dramático (e um tanto irônico) chega, não me causou nenhum sentimento. Não me vinculei a Gwen, tampouco a Laurence, e não fazia mais diferença se eles seriam felizes ou tristes no fim da estória. 

Por estes motivos, não é uma leitura que eu recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

1 Comments

  1. Já tentei de ler duas vezes, mas é muito entediante no início, não consegui chegar nem na metade...

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