Sugestão de Leitura | Vidas Sem Rumo, de Susan E. Hinton


Este post também faz parte do Rory Gilmore Book Challenge.

Este livro me lembrou outras quatro obras que fazem o gênero coming-of-age, ou seja, obras que focam no desenvolvimento emocional e social de um protagonista, na transição da infância para a adolescência: As Aventuras de Huckleberry Finn (Mark Twain), O Apanhador no Campo de Centeio (J. D. Salinger), On the Road (Jack Kerouac) e Palo Alto (James Franco)Por isso, se você gosta de algum destes livros, a leitura de "Vidas sem Rumo" é obrigatória.

Susan E. Hilton escreveu este livro quando estava no Ensino Médio, aos 15 anos de idade, na década de 60. Apesar de ser curto (121 págs.), Susan escreveu uma estória completa, cheia de camadas a serem exploradas e com personagens encantadores. Seu jeito de escrever lembra muito Mark Twain, Kerouac e J. D. Salinger, pois é fluído, cheio de gírias e bastante informal.

O pano de fundo do livro é a rixa existente entre dois grupos: os Greasers e os Socs. Greasers são jovens trabalhadores que viviam nos subúrbios dos EUA nas décadas de 40 e 50, de uma classe sócioeconômica baixa e que se envolviam em crimes dos mais diversos. Socs é a abreviação de Socials, os "playboys" dos EUA, geralmente jovens brancos de famílias ricas e privilegiadas.

"Parecia que eles tinham sido feitos todos na mesma fôrma: rosto bem barbeado, cabelo semi-Beatles, camisa listrada ou xadrez, jaqueta vermelho-claro ou bege ou então jaqueta xadrez de esqui. Com aquela roupa, podiam ir ao cinema, em vez de uma briga. É por isso que as pessoas nunca pensam em botar a culpa nos socs e estão sempre prontas a pular na nossa pele. A gente tem jeito de vagabundo, eles têm jeito de ser “do bem”." (Vidas Sem Rumo, de Susan E. Hinton)

O protagonista da estória é Ponyboy Curtis - de longe, um dos protagonistas mais carismáticos que já li até hoje, competindo com o Holden Caulfield de J. D. Salinger e com o Charlie de Stephen Chbosky. Orfão de pai e mãe, ele é criado pelos dois irmãos mais velhos, Sodapop e Darry. Os três formam um núcleo familiar sólido e cativante, pois tentam ao máximo ficar longe dos crimes, embora todos os seus amigos sejam bandidos e marginais.

"Mas eu continuava mentindo, e sabia disso. Minto para mim mesmo o tempo todo. Mas nunca acredito em mim." (Vidas Sem Rumo, de Susan E. Hinton)

Numa noite, Ponyboy vai ao drive-in assistir um filme com Dallas e seu melhor amigo, Johnny. Lá, eles conhecem duas garotas Socs, Marcia e Cherry. Ponyboy se surpreende com Cherry e vice-versa, pois ambos não correspondem aos estereótipos da classe social em que vivem. Assim, eles se aproximam, provocando o ciúme e o ódio do namorado de Cherry, Bob, e seus amigos Socs. Bob tenta matar Ponyboy e Johnny acaba matando Bob.

Johnny é uma personagem surpreendente. Descrito como tímido e retraído, o leitor se surpreende com sua atitude, pois ele não parecia ser capaz de cometer um assassinato. Assim, ficamos sensibilizados pela amizade que existe entre ele e Ponyboy, e esta amizade será a carga emocional principal do livro.

"— Corrida de ratos. Este é um nome perfeito para a coisa — disse ela. — Estamos sempre indo, indo, indo, sem nunca perguntar para onde. Você já ouviu falar em ter mais do que queria? Aí você não tem mais nada para querer e sai procurando alguma outra coisa. Parece que a gente está sempre atrás de alguma coisa que nos satisfaça, sem nunca encontrar. Talvez encontrasse se a gente conseguisse perder essa frieza." (Vidas Sem Rumo, de Susan E. Hinton)

Johnny e Ponyboy, com ajuda de Dallas, fogem para uma igreja abandonada, pois não querem ser presos por assassinato. Após alguns dias da fuga, a igreja pega fogo, com algumas crianças dentro, e ambos os garotos salvam as crianças, tornando-se heróis da cidade. Em paralelo, Darry e Sodapop estão organizando uma batalha final dos Greasers contra os Socs, com o objetivo de decidir quem irá ficar com o território.

O livro, em suas poucas páginas, contém violência de gangues, preconceito, discussões sobre classes sociais e seus estereótipos, menores de idade fumando e bebendo, disfunções familiares e violência. E, apesar disso tudo, eu fiquei extremamente emocionada com a poesia do livro. Ponyboy e Johnny são ingênuos, apesar de tudo o que vivem, e vêem o mundo de um jeito incrível. No final da estória, chorei - de verdade - com um sorriso no rosto, porque há uma beleza e uma sensibilidade impressionantes no desfecho que Susan criou.

Recomendo muito a leitura deste livro e que todos nós sejamos dourados. Leia que você vai entender.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

1 Comments

  1. Dica anotadíssima! Eu nunca ouvi falar desse livro e, por você mencionar meus outros queridinhos, é claro que já me ganhou haha. A história parece bem simplória e bem característica dos EUA, especialmente da época retratada. Com certeza, quero ler! A capa também me atraiu bastante! Será que encontro em sebos? Vou dar uma garimpada por aqui! :)

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

    ResponderExcluir