O livro ou o filme? | Reparação, de Ian McEwan (Desejo e Reparação)


Este post também faz parte do Rory Gilmore Book Challenge.

Assisti ao filme "Desejo e Reparação" (2007) logo que ele foi lançado e lembro de ter ficado com uma sensação de que poderia haver algo mais na estória que a tornasse ainda mais sensível. Somente este ano li o livro que deu origem ao filme, "Reparação", de Ian McEwan, e este post é minha opinião sobre ambas as obras.

Ian McEwan começou sua carreira como escritor escrevendo contos curtos góticos e de terror, nas décadas de 70 e 80. Em meados dos anos 90, ele se voltou para escrever romances de época e "Reparação" foi seu terceiro livro neste gênero, escrito em 2001. O livro é uma metaficção, pois faz menção a si mesmo ao longo da narrativa.

Briony Tallis é uma garota de 13 anos que adora escrever e, no momento, está concentrada em uma peça de teatro particularmente longa, peça esta que ela escreveu como um presente de boas-vindas para seu irmão mais velho, Leon. Briony também tem uma irmã mais velha, Cecilia, e três primos que moram com sua família - os irmãos gêmeos Pierrot e Jackson e Lola, a mais velha dos três. Briony tenta, sem sucesso, engajar os primos na interpretação e na montagem da peça de teatro, o que a deixa sentindo-se frustrada e fracassada.

Todos eles são de uma família rica da Inglaterra do século 18, tanto que Cecilia pôde ir à faculdade em Cambridge. A família também adotou o filho do zelador da casa, Robbie, que foi à faculdade com Cecilia. Porém, ela assume não gostar de ser vista com "o filho do zelador" na faculdade e, embora eles fossem amigos de infância, ela passa a ignorá-lo por causa da diferença de classe social.

No entanto, ao longo da estória, torna-se claro que Robbie e Cecilia tem um amor mal resolvido pairando entre eles e as tensões entre ambos aumentam, até o ponto em que Robbie escreve uma carta pornográfica à Cecília, carta esta que cai nas mãos de Briony. Além disso, Briony flagra Robbie e Cecilia no meio de um ato sexual na biblioteca da casa. (Aqui faz todo o sentido a adição da palavra "Desejo" ao título do filme). E, para piorar o conflito, Lola é violentada por um homem misterioso nos jardins da casa e Briony culpa Robbie pelo ato, afinal, na cabeça dela, ele era um "pervertido".

De forma geral, todas as personagens deste livro estão em busca da reparação por algum erro ou dano cometido. Na primeira parte da obra, o leitor é colocado diante dos erros das personagens, de suas falhas de caráter e de seus conflitos internos. A narrativa, na segunda parte, segue em direção ao que estas mesmas personagens estão fazendo para concretizar a reparação dos danos, o que aprofunda ainda mais seus conflitos e as relações entre elas. Muitos anos se passam entre a primeira e a segunda parte da estória e, nesta última, o leitor é apresentado ao futuro de Briony, Cecília e Robbie, seus encontros e desencontros.

O filme foi dirigido por Joe Wright (o mesmo de "Orgulho e Preconceito") e Cecilia interpretada por Keira Knightley (o que faz o filme ficar ainda mais parecido com "Orgulho e Preconceito").  James McAvoy faz um excelente Robbie (forte e frágil em iguais medidas) e Saoirse Ronan interpreta a irritante Briony de 13 anos.

O filme acentuou a característica de drama da estória, mas em um nível mais externo do que interno. Ou seja, o foco da narrativa ficou na guerra enfrentada por Robbie na segunda parte da estória, nas profissões que Cecilia e Briony seguiram quando adultas e no caráter de crime do que Robbie foi acusado na primeira parte. E, mais uma vez a exemplo de "Orgulho e Preconceito", as locações e figurinos são incríveis. Aliás, a semelhança com a adaptação da obra de Jane Austen é um ponto contra este filme, pois fiquei com a sensação de presenciar uma repetição ou uma continuação, e não uma obra original.

O livro ou o filme? O livro, e desta vez decidi sem nem pestanejar. A narrativa do livro tem uma característica mais subjetiva, afinal, as personagens estão em busca de um novo começo e são atormentadas pelos próprios sentimentos e pensamentos em relação aos seus passados. Sobretudo Robbie e Briony são atormentados e sofrem bastante, portanto, o leitor espera pelo momento onde eles irão se reencontrar e recomeçar. Mais do que falar sobre a estória de amor entre Robbie e Cecilia, o livro foca na relação entre Robbie e Briony depois de tudo o que aconteceu entre eles, afinal, eles foram criados juntos, quase como irmãos.

Acho que este tom mais intimista acabou se perdendo no filme. Não me comovi como quando li o livro, que me arrancou algumas lágrimas eventuais e um aperto no coração no final. O filme é um ótimo entretenimento, mas o livro nos faz refletir sobre quais são as nossas próprias necessidades de reparação. É profundo e tocante, uma excelente leitura.

3 Comments

  1. Eu adorava o filme, mas só esse ano consegui ler o livro. Confesso que fui esfriando ao longo da leitura; achei a primeira parte maravilhosa, mas a partir da segunda acho que ficou tão "o cotidiano" que, apesar de interessante ver como a guerra afetava a todos, assim como os erros do passado, na maior parte de tudo eu achei que não acrescentava nada novo - até finalmente acontecer o reencontro entre os personagens. Mas foi uma leitura ótima, eu gostei bastante do livro e não sei escolher entre um e outro, ambos são bons de maneiras diferentes pra mim.

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    1. Ah sim, nisso você tem razão, tem um trecho dele que fica arrastado demais, mas depois volta a ficar bom. É uma ótima obra!

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  2. Nunca tive interesse de ler o livro, mas eu gosto do filme. Só assisti umas duas vezes, há bastante tempo, mas acho que pela semelhança de Orgulho e Preconceito me fez ter apreço por ele. Lembro que a trama me prendeu bastante e a guriazinha me irritou bastante haha. Fiquei até com vontade de rever hehe.

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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