Rory Gilmore Book Challenge | Frankenstein, de Mary Shelley


Uma das melhores coisas da série Gilmore Girls era a Lorelai Gilmore, também conhecida como Rory. Inteligente, estudiosa, sem paciência para relacionamentos amorosos adolescentes e criada pela mãe solteira, Rory é uma daquelas personagens femininas que nos inspiram até os dias atuais. Ao longo da série, ela menciona 340 livros e este desafio é sobre ler todos eles. Para saber quais livros do desafio o Perplexidade e Silêncio já leu, clique aqui (alguns posts são feitos para outras sessões do blog, mas fazem parte da lista de livros da Rory).

Mary Shelley foi criada em um lar que estimulava o pensamento: seu pai era um filósofo político e sua mãe, uma feminista. Estamos falando deste ambiente no início do século XIX, o que torna tudo ainda mais vanguardista e revolucionário. Não é à toa que Mary Shelley tornou-se escritora e poeta, em uma época onde estas atividades eram consideradas predominantemente masculinas. Enquanto passava um verão na Suíça com seu marido, também poeta e escritor, e o poeta Lord Byron, Mary teve a idéia de escrever Frankestein. Isso a torna ainda mais interessante, pois ela resolveu escrever terror e suspense, e não romance, que era o máximo que as mulheres faziam então. Como não gostar dela?!

Em 2011, tive a oportunidade de conhecer a casa onde Mary passou seu verão inspirado em Genebra. É uma casa simples, no alto de uma pequena colina, de onde se vê o lago Léman. É um lugar maravilhoso e fico feliz de tê-lo conhecido. É uma pena que, na época, o blog ainda não existia para eu publicar as fotos. Mas, continuemos.

 A história pessoal de Mary é trágica: ela perdeu três filhos e seu marido morreu afogado em um acidente de navio. E, no final de sua vida, ela teve um câncer no cérebro e faleceu aos 53 anos.

"Frankestein, o Prometeu Moderno" é o nome original da obra, que foi publicada em 1818, anonimamente, quando Mary tinha 20 anos. Somente após 5 anos, na segunda edição do livro, que seu nome apareceu. Hoje em dia, há estudiosos que defendem que este livro foi a primeira obra de ficção-científica a ser publicada no mundo, pois Mary cria uma tecnologia além de seu tempo para defender experimentos sociais e psicológicos.

O erro mais comum é confundir Frankestein com a criatura. Frankestein, na realidade, é o sobrenome da personagem central da obra, Victor. O monstro, em si, não tem nome, e é chamado de várias formas ao longo da narrativa: criatura, anjo caído, criação, demônio, monstro, etc. 

O enredo começa com a infância de Victor Frankestein, encorajado a compreender o mundo e o funcionamento das coisas (como a própria Mary foi). Ele se apaixona pela irmã adotiva e, mais velho, ingressa na universidade, onde torna-se especialista em Química e Ciências. Neste meio tempo, sua mãe morre de escarlatina e ele pede sua irmã-adotiva em casamento, que aceita. Mas o leitor logo percebe que o que ele realmente quer é descobrir como dar vida aos mortos, usando os conhecimentos que adquiriu na universidade.

Depois de algum tempo, ele consegue, enfim, criar um monstro a partir de partes de pessoas mortas. O conflito do enredo acontece quando ele vê o monstro na cena de um crime, onde seu amigo de infância jaz morto. Victor acha que a criatura cometeu o crime e se isola nas montanhas, abandonando sua criatura. Neste momento, a narrativa muda e concentra-se na vida do próprio monstro. Este, articulado e pensante, começa a descrever o que passou, viveu e sentiu enquanto Victor o abandonou, já que o monstro o vê como um pai e é carregado de cargas afetivas em relação ao seu criador. E, aí sim, começa a parte de "terror" e suspense da obra.

O final - sem spoilers - é trágico e carregado de emoções fortes. Mary Shelley, ao que parece, quis concentrar-se na parte sentimental de uma experiência como esta, portanto, a leitura pode frustrar alguns leitores que esperam por mais explicações racionais dos eventos. Afinal o livro foi escrito no período do Romantismo, e as idas e vindas dos relacionamentos da trama não deixam isto ser esquecido. Mesmo a criatura é retratada como algo "humano", o que a torna ainda mais aterrorizante. 

A analogia com Prometeu, no título original, é porque, assim como Prometeu, no mito grego, roubou o Fogo Sagrado para levar imortalidade aos humanos, Victor Frankestein quer ser o responsável por descobrir uma forma de fazer as pessoas retornarem da morte. A motivação central dele, no início, parece ser a morte da mãe, mas logo nota-se que Victor quer honra, respeito e notoriedade pelo feito, e sente-se Deus. Assim como Zeus pune Prometeu pela sua ganância, Victor também é punido na estória. 

É uma leitura que recomendo muito, pois, ao longo dos anos, muitos filmes e adaptações fizeram com que a essência desta obra se perdesse.

2 Comments

  1. Bem que podia rolar um livro x filme de Frankenstein, né? Ouvi falar que a versão com Kenneth Branagh é praticamente idêntica ao livro.
    Eu fiquei com muita vontade de ler o livro (ou ver o filme, ou os dois) depois de assistir Penny Dreadful, porque, francamente, a Criatura foi de longe o personagem mais legal e melhor interpretado/evoluído/amado/tudo, inclusive tô sofrendo até hoje que não exploraram melhor o arco dele naquela série. Mimimi.
    Sentimentaligrafia

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    1. Puxa, eu podia mesmo fazer isso... vou anotar na minha listinha.
      Nossa, Penny Dreadful <3 Saudades

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