Onde faço o retorno?

Sunny Memories - Jana Martish

Acho que este nó no estômago está tentando me avisar que estou no lugar errado. Estou enjoada destas movimentações calculadas, frases de efeito, palavras grandes e quatro paredes. Não fui feita de mundo e pedra, e sim, de estrelas e chuva, e sou frágil e etérea demais para ambientes assim, tão concretos, tão duramente reais. Ao meu redor, vejo um festival de cerimônias tolas e sem propósito, e eu não me importo mais. Simplesmente não me importo mais.

Não é um sentimento aventureiro ou selvagem, não é uma revolta contra a sociedade nem nada tão político assim: é só uma enorme vontade de estar onde eu faça parte.

Quando eu era mais nova, prometia a mim mesma que mudaria o mundo. Sim, eu era megalomaniacamente (esta sim é uma palavra grande) ingênua. Acreditava em conceitos que, hoje, parecem sonhos de uma menina tola. Daí em diante, achei melhor ser pragmática, e as minhas escolhas seguiriam uma linha de pensamento muito mais racional nos anos seguintes.

Foi aí - exatamente aí - que tudo ficou chato.

Será que eu deveria ter arriscado mais? Sim. Com certeza, sim. 
Aqui vai um grande suspiro pela frustração de não ter tido coragem de ser mais eu. O suspiro sai lá de dentro de mim, de trás do umbigo, e vem como uma grande onda. Paro um pouco - só um pouco, senão enlouqueço - e contemplo as oportunidades perdidas. Os desvios, retornos e estradas que escolhi não ver.

Passou. Aliso a camisa, ajeito o cabelo, respiro fundo e volto para onde estou hoje. Sempre há um recomeço, eu sei, eu sei. Eu mesma já dei este conselho várias vezes. Só estou tentando acalmar a parte de mim que ainda é uma menina tola, dizendo-lhe que vai ficar tudo bem.

Com o enjôo, vem a dificuldade de concentração. Já tentei me convencer de que é sono, cansaço, anemia. A quem eu quero enganar? É tédio. Desinteresse. Tão simples quanto isso.

Tem um sol quente e laranja aqui em algum lugar, mas ele não está com vontade de sair de trás das nuvens. Ele precisa de espaço e leveza e simplicidade e propósito. Agora, me resta descobrir onde encontro tudo isso.

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3 Comments

  1. Oi, Ruh!

    Nossa melancolia é parecida! Já disse que, mesmo que apenas nos conheçamos online e estejamos há quilômetros de distância, somos parecidas por dentro, né? Assim como naquele seu texto sobre não precisar de conserto, eu me vi nesse, agora. Às vezes, eu entro numa bolha de tédio imensa e penso que somente existo, porque, por acaso, eu nasci. Nunca me senti parte de lugar algum, simplesmente porque não encontrei ninguém que fosse como eu. Nunca. Ninguém que goste de se esconder como eu. Ninguém que goste de ser caseira como eu. Ninguém que finge que existe que nem eu. E, por isso, acabo presa num enorme desinteresse. Não sei se sou eu a errada, ou o mundo. Agora, eu sei que posso fazer a diferença com meus escritos, mas, ainda assim, é muito difícil me encaixar. E, sinceramente, estou num ponto da vida que nem sei se me importo. É tudo whatever. Para onde quer que eu olhe, ou onde quer que eu esteja fazendo. E nem sei se quero descobrir algum sol em algum lugar. Só quero ficar, aqui, no meu canto, fingindo estar existindo.

    Love, Nina.

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  2. Oi Ruh!

    Já me senti muito assim, da maneira como você descreve no texto. É como se estivéssemos em um plano mas, ao mesmo tempo, sem nos sentirmos parte dele. Eu deixei de me sentir assim recentemente, talvez por causa do casamento, por causa do meu amadurecimento espiritual, ou, quem sabe, pelas duas coisas. A vida é um processo de descobrimento infinito, acho eu. Sempre que você acha que passou por um obstáculo, algo aparece pra tomar conta do antigo. Acredito que seja isso que nos faça crescer. Não me sinto mais sozinha, embora, uma vez ou outra, sinta falta do meu silêncio interno e dos meus questionamentos (aqueles que eu não divido com ninguém). Às vezes volto pra minha redoma, pra dentro de mim mesma... Mas de um jeito ou outro sempre encontro o caminho de volta. Tenho certeza que você vai encontrar o seu :) A sinceridade dos seus textos deixa isso claro pra mim.
    Beeijo
    http://www.estoriasecafe.com/

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  3. Não há palavras para descrever o quanto suas palavras fizeram sentido aqui dentro de mim. Às vezes, ou na maioria delas, eu me pego nesse estado onde não sei o que mais me desinteressa, o mundo, ou a existência. Os seres humanos, ou os sonhos inalcançáveis que acabam esmagando outros. O amor, ou as juras que as pessoas dizem partir dele. A mentira ou a falsidade nos corações. O certo ou o errado. O que me faz sorrir ou o que me faz chorar. Juro que não sei. Mas sei que preciso saber como encarar cada frase, cada palavra, cada ação, cada movimento e cada opinião que possa surgir nos novos amanheceres. Acho que nem o que acabei de dizer fez sentido pra mim, já me desinteressei em tentar entender e muito menos explicar.
    Enfim, lindo e apaixonante texto.
    http://escrituras-da-alma.blogspot.com.br/

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