Não preciso de conserto

broken by Patty Mayer
Não seja tão quieta. Nem tão solitária. Não fale deste jeito comigo. Não grite. Não faça isso deste jeito, nem de nenhum outro - não faça de jeito algum. Não faça as tatuagens. Não seja escritora, nem filósofa, muito menos astronauta (são sonhos tolos). Não seja tão introvertida. Não torne-se dependente de mim. Não se apegue assim. Não, não chore. Nem beba demais. Não fique carente assim, nem angustiada, nem triste, nem chateada, nem brava. 
Reduza a sua identidade às coisas boas, somente. Ninguém vai amar você com todo este lixo. Deixe sua bagagem do passado em qualquer canto, porque ninguém tem nada a ver com isso.

Quando ouvimos constantemente o mesmo discurso, ele flui facilmente dentro do coração, como uma verdade absoluta que, de tanto ser repetida, passamos a acreditar.

Dia após dia, pessoas vem e vão, dizendo-me o que devo ser, como devo pensar e qual é o certo a sentir. Porque, no mundo lá fora, existem sentimentos que são inadequados - não somente para demonstrar, como também de possuir. Dia após dia, minhas interações com a vida de uma forma geral fazem-me sentir inadequada, desajustada, como um brinquedo que precisa de reparos para funcionar direito.

Não houve quem se preocupasse em saber como eu funciono, de fato. Aquele interesse genuíno, quase científico, de experimentar as coisas do meu ponto-de-vista, acolher meu coração com duas mãos gentis, entendendo o quão cheio de falhas e lacunas ele é, desde sempre - desde que me entendo por gente.

Cansei de sentir que tenho algo errado. Ser quem sou não pode estar errado. As pessoas serem como são não lhes confere o direito de dizer que elas são certas. Não quero isso para mim: não preciso de conserto. Não estou quebrada.

Estou ferida, frustrada, cansada e triste, mas não quebrada. Não errada. Não torta. Só estou sendo eu, num dia ruim. E não tenho que pedir desculpas por não ser perfeita. 

1 Comments

  1. Oi, Ruh!

    Caramba, você traduziu o que sinto todos os dias, em todos os lugares! Sei que há algumas pessoas que me aceitam - parcialmente -, ainda assim, não gosto de receber os constantes olhares de desconhecidos me destratando implicitamente por ser como sou. Odeio essas pessoas que me forçam a ser como são, como se o mundo funcionasse do jeito delas. É muito ruim sofrer para tentar se encaixar em ambientes que não têm nada a ver conosco. Ironicamente, escolhi uma área de atuação que é oposta a mim: fala alto, corre para todos os lados, fala sem inibição e, por vezes, é muito, muito mal-educada. Embora eu goste do curso, a praticidade dele me deixa muito louca. Sou muito intimista, solitária (e amo ser assim!) e quieta. Já tentei mudar, mas nunca consigo - e, depois de tantas tentativas fracassadas, percebi que estava encarando isso de forma errada. Ninguém precisa mudar. Eu não preciso mudar. Se funciono desse jeito, é quem sou. Não quero ser cópia de outras tantas pessoas felizes, animadas e extrovertidas. Quero ser eu, com todos os meus defeitos. Como você disse, não tenho que pedir desculpas por não ser perfeita. Amei! <3

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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