O que penso sobre o Amor

Quando era criança, costumava acreditar no amor como se ele fosse um presente. Haveria um dia em que alguém chegaria na minha porta, batendo gentilmente, e me entregaria o embrulho. Esperaria eu abri-lo e ficaria por perto. Seria um presente perfeito - e eu só saberia o que é quando abrisse pois, até então, eu não seria capaz de imaginar algo tão lindo.

Bateram na minha porta uma vez e me entregaram um pacote. Balancei, revirei, olhei o papel e o laço e o abri. Não gostei. Não era aquilo que eu queria. Demorei um tempão até conseguir devolvê-lo.

Depois de um tempo, bateram de novo. Desta vez, o embrulho era maior e mais bem feito. Interessada, abri logo. Tive tanto receio de me frustrar novamente que aceitei e tentei acreditar que aquele era, enfim, o Amor. Coloquei na estante e cuidei dele por anos - até que ele caiu no chão e partiu. Em um milhão de pedacinhos. Por dentro, era oco, doloridamente oco. 

Passado tudo isso, desisti de acreditar no Amor - veja bem, não sou fria nem sem sentimentos, mas não acho que exista essa entidade perfeita e absoluta, que perdoa sempre e admira qualquer coisa. Papo furado.

Acho que o Amor é algo menor e mais simples e, por isso, mais real e mais possível. Se magoar muito, foge. Se tratar com muito silêncio, se esconde. Se afugentar, fica arisco. Como todo mundo. Não é para ser invencível - se for rude, ele quebra. Simples e menor.

Mas a graça dele - ah! a graça - é que ele persiste. Morre de medo de mil cenários, mas enfrenta. De vez em quando pensa e duvida, e então repensa. Acha que tudo vai dar errado, quando está de cabeça quente, e horas depois é inundado por um otimismo sem limites. Porque esta sensação de que tudo é possível, de que a vida é linda e imensa e de que uma pessoa pode te ajudar a construir o mundo todo - também é Amor.

É curioso: sou romântica até certo ponto. De um outro em diante, não sou. E nem eu entendo direito como funciona essa divisão. E, aliás, entender não ajudaria em absolutamente nada. Entender raramente ajuda nessas coisas.

Se hoje baterem na minha porta com um presente, nem recebo. Deixo lá batendo. Prefiro uma pessoa de verdade do que um presente bonito.

________________________________________________________________________________________

Post relacionado: O Farol (2)


1 Comments

  1. Oi, Ruh!

    Ah, gente, que amor <33
    Bom, tenho que concordar que também sou romântica apenas até certo ponto. Sou muito sonhadora, cultivo muitas expectativas, mas há muitas coisas que acabam me irritando, inclusive em textos românticos, relacionadas ao amor. Por exemplo, eu não me importo com flores, nem com atos de heroísmo, nem com presentes elaborados. Gosto muito, muito mesmo das entrelinhas. Daquela coisa da conquista aos poucos, que, quando a gente vê, não tem mais saída, porque a pessoa nos conquistou de uma maneira que parece impossível retroceder. Gosto de detalhes, especialmente se vierem acompanhados com sorrisos, ou olhares. Hoje, infelizmente, já não espero muita coisa. Já quebrei a cara muitas vezes, então, por um tempo, quero distância de ilusões. Quem sabe um dia, eu saia da minha toca de novo e consiga deixar outra pessoa me encantar.

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

    ResponderExcluir