{desafio das cartas} 11/12 - Uma carta de perdão


A idéia do Desafio das Cartas veio do Paperia e consiste em escrever uma carta por mês, durante um ano, a pessoas importantes da sua vida. Lá no Paperia, as cartas são escritas à mão e enviadas pelo correio (idéia linda!) e eles sugerem o tema de cada mês. Aqui, as cartas serão em forma de posts e escolhi outros temas, com a identidade do Perplexidade e Silêncio.

11/12 - Uma carta de perdão

De todas as cartas que escrevi até agora, esta, sem dúvida, está sendo a mais difícil. Venho pensando nela há dias - há meses, na verdade - e não muita coisa saía de mim em palavras. A princípio, não sabia nem a quem eu a endereçaria, e ficava me perguntando: quem eu devo perdoar?

Até que percebi: eu mesma. Seria um perdão a mim.


Já me afundei no peso de minha própria culpa, quando senti que toda a responsabilidade pela Tragédia da minha vida era minha. O remorso era pesado como um grande bloco de pedra, daqueles crus e cinzentos, que não foram sequer lapidados pela ação do vento ou da chuva: era uma pedra pura e do tamanho de uma casa, e eu carreguei ela por todos os lados, durante dias e dias e dias sem fim, sem saber o que fazer com ela.

Com isso, perdi a noção do tempo e da vida, do que era sorrir e do que era estar bem, em um eterno tormento de vozes apontando meus erros. O que mais me machucava não eram os erros grandes, mas sim, aqueles pequenos, feitos a partir de imaturidade e criancice, me envergonhando tanto que quis sumir.

Mas não sumi. Nem a pedra. O que era preciso fazer era me perdoar. Por ser humana, tola, fraca e inexperiente. Por ter achado que eu era capaz de conquistar o mundo, e não ser. O perdão tiraria da frente todos os meus defeitos e me deixaria ver, pela fresta da porta, um pouco do que ainda tenho de bom.

Tenho coisas boas ainda, certo? Espero que sim.

Tem dias que não me acho digna de perdão, como se eu tivesse que me submeter a algum tipo de sermão católico de expiação dos pecados ou algo assim. Tem dias que é particularmente difícil tirar a culpa das costas e deixá-la de lado. Então, o meu perdão vem aos poucos, uma dose pequena por dia, em uma cura lenta e que exige paciência. Até que tudo cicatrize.

Aí sim, estarei liberta.

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1 Comments

  1. Oi, Ruh!
    Sabe quando a gente faz ou diz uma coisa que, na hora, parece certa, mas que, muito depois, pensamos por quê, afinal, fizemos/dissemos aquilo? Já fiz muito isso. Inclusive, quando era criança - não que eu fosse uma criança má, mas às vezes eu tinha dessas de ser idiota. Por muito tempo, um episódio ficou na minha cabeça, mas me perdoei por ele, pois entendi que, puxa vida, a gente é idiota mesmo de vez em quando. É inevitável. Só que o bom de ter coisas martelando na nossa cabeça, que nos fazem sentir culpadas, é que a gente pode decidir continuar nos martirizando, ou seguir em frente. Que bom que segui em frente várias vezes e me perdoei. E que bom que você fez o mesmo! :)

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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