Sobre dias de chuva

Brooke Shaden Photography
Hoje o dia acordou introspectivo. Sem ter muita certeza: deveria sair da cama? deveria não existir, por somente algumas horas, até que a vontade de ver o mundo retornasse? O dia acordou cinzento e pesado, carregando na memória aqueles tempos de céu azul e sol brando, aquele ar amuado de quem está com a alma em outro lugar.

Acordei exatamente no mesmo estado de espírito do dia, com aquele humor que busca conforto no silêncio e na solidão. Criei ao redor de mim uma pequena bolha transparente, evitando conversas e contatos oculares, apenas como garantia que de que a minha melancolia seria preservada com carinho.

Dias de chuva são tão mal-ditos. São alvo de queixas e de reclamações, são considerados feios e tristes. A grande maioria do mundo não sabe encontrar a beleza do que é trágico, silencioso, obscuro, indefinido: é tão simples admirar a beleza que existe na alegria e no dia ensolarado, mas para enxergar o outro lado das coisas da vida, ah!, para isso é preciso coragem.

E coragem dói.
Incomoda aqueles pontos habituados da mente. 

Eu prefiro a beleza estranha de um dia chuvoso: o som das gotas caindo nos telhados, a forma que a água adquire na janela, o cheiro da chuva quando chega à terra, o céu carregado de nuvens poderosas e solenes. Gosto de dias quietos, circunspectos, sisudos - pois sou um pouco disso também.
Meu lado que é sol aparece de vez em quando, mas a parte de mim que é chuva me acompanha todos os dias. É minha amiga de longa data.

Hoje eu e o dia acordamos absorvidos pelos nossos próprios pensamentos, e está muito bom aqui dentro de mim.

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