O Farol (1)




Quase morro afogada dias atrás. Ainda estou me recuperando da falta de ar mas, pelo menos, já me sinto viva novamente, mesmo que um pouco fraca nos pulmões. Tenho optado por um certo recolhimento, para recobrar todas as forças, e me espere: logo volto ao mundo de fora de mim, prometo. 

Veio uma onda tão grande e eu, que estava à deriva em busca de respostas (como sempre), fui surpreendida. Naquele dia, resolvi sair ao alto-mar com meu barquinho frágil e este foi meu maior erro. Não deveria eu, a esta altura, já ter construído um navio? Mas eu chego lá, por bem ou por mal. Me afogando ou nadando.

Tão fria a água, a noite tão escura, a onda tão espessa. Não encontrava forças em mim para nadar: eu sabia o que deveria fazer, sabia como coordenar os braços e as pernas e nada fiz. Me larguei àquele desespero de ser sozinha que fiquei acostumada a sentir.

Felizmente, algo que aprendi foi: há sempre uma luz que me puxa de volta da escuridão. Durante muito tempo, esperei que essa luz viesse de repente, de um jeito fácil e simples, na hora que eu precisasse e - magicamente - eu me tornaria uma pessoa feliz, leve. Normal. Essa ilusão já passou. Doeu, mas passou. Agora entendo que a luz aparece lá ao fundo, do outro lado do mar, e eu tenho que voltar a nadar de qualquer forma.

Ninguém vai vir me socorrer, nem remar o meu barquinho para mim. Se ele estiver furado e eu estiver afundando, não vai aparecer um colete salva-vidas ou um barco novo. Não, não. Eu tenho que me recuperar e nadar mesmo assim. 

A diferença é que a luz me dá esperanças: alguém acendeu aquela luz para mim lá no alto do farol, subiu todas as escadas, direcionou o feixe de luz na minha direção e está lá, me esperando, acreditando que eu posso chegar até a terra firme de novo. Quando eu menos me sinto capaz de nadar, a luz do farol lá ao longe me recorda que, se estou me abandonando e me esquecendo, há quem não está.

Talvez amar seja isso: acender o farol no meio da escuridão e esperar, com uma lanterna e uma fogueira, o sobrevivente.

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