Se quer se fazer de morto, pois então seja um.



"Uma história só é relevante, suponho, na medida em que as pessoas na história mudam. Mas eu tinha sete anos quando todas essas coisas aconteceram, e no fim de tudo era a mesma pessoa que era no início, não era? Todos os outros também. Deviam ser. As pessoas não mudam. Mas algumas coisas mudaram." ~ O Oceano no Fim do Caminho, Neil Gaiman.

Tudo bem, vou concordar com você que a tristeza vicia. Parece um pouco com aquela vontadezinha de comer um doce com café depois do almoço. Mas, entenda, da minha tristeza tiro as minhas lições e coisas bonitas, não me recrimine (muito) então.

É que às vezes tenho que conviver com pessoas que não respeitam os meus sentimentos. Me invadem, sem nenhum direito de provocarem as dores que trazem consigo, sem autorização para desenterrarem recordações que desejo empurrar para o cemitériozinho no fundo da minha mente. Com que direito alguém chega no seu mundo, atravessa a soleira da sua porta, e te dá como presente um buquê de flores mortas? Mas, errada sou eu, que abro a porta para o passado dolorido, ou mesmo espio pela fechadura para checar se ele continua ali.

E, quando fico ali observando as pessoas que me machucaram, com seus sorrisos fingindo-que-nada-aconteceu, o que mais me entristece é ver a minha versão ao lado delas: tão fraca e apagada, como um fantasma de quem eu realmente sou. Por que me permiti ser assim, é a pergunta que me faço. Queria poder apagar - tanto a história quanto a mim - mas não posso. E isso dói. Assim como dói esse silêncio de quem não me pergunta o que tenho, o que acho, o que espero. No fundo, acho que sabem que direi que os desprezo, profundamente.

Posso gostar de destruir coisas bonitas, mas gosto ainda mais de construí-las. Dei chances e oportunidades, revi meus conceitos antigos e amarelados, deixei espaço na Nota do Editor para observações de "Foram felizes depois disso." Fiz o que pude fazer. E quando o estoque do que eu podia fazer acabou, fiz um pouco mais. Não quero ser triste para sempre, não quero ser escrava desse vício em melancolia: quero ser feliz. Você pode não acreditar, mas me esforço.

Acho que a tristeza de hoje é desistência. 

Ou melhor: a tristeza de hoje é mudança de caminho. Se as tentativas anteriores não valeram a pena, se as pessoas anteriores não valeram a pena - se fui pouco para elas, ou se elas foram pouco para mim - preciso buscar novas tentativas, novas pessoas, onde eu seja o suficiente para elas e onde eu tenha o suficiente para mim. E se morro de medo desse novo caminho - está bem, já sei o que você vai dizer: o vicio em tristeza dizendo Olá - qual é minha outra opção?

Continuar acreditando que posso ser feliz é a única que merece minha atenção. E se ficar escuro demais, por favor, fique por perto para me estender a mão. Não quero tropeçar no meu fantasma outra vez.

3 Comments

  1. Esse texto me tocou tanto, estou vivendo um momento de traição de amizade e um ex que quando terminamos, já está hoje namorando outra, ¬ ve se pode. Venho fingindo estar tudo bem, mas não está. Falta coragem para desentalar todas essas palaras iguais a sua! Um dia sai, a se sai....

    Chá de Calmila
    FAN PAGE

    ResponderExcluir
  2. Vamos sempre acreditar que é possível ser feliz. Se não acreditarmos, a vida fica sem graça, sem propósito.
    Lindo texto, Ruh. Saudades.

    ResponderExcluir
  3. *Pausa contemplativa p/ o Gaiman* ... <3

    Como já disse Tim Burton "Você pode ter uma família, sucesso, pode ter um milhão de amigos... Mas, se você já se sentiu desse jeito um dia (referindo-se a solidão), vai sempre se sentir assim."

    Mas o aspecto q vc tem q olhar ñ é a tristeza do passado, as dores que já se foram, e sim q sem essas marcas, essas dores, essas coisas vc ñ seria quem é e nem estaria onde está. E, no fim das contas, é isso q importa.

    ResponderExcluir