Impermanências



Minha maior fraqueza é ser tola. É me assustar com a realidade do mundo, e re-perceber a inconstância de tudo (inclusive de mim mesma) e não conseguir me acostumar. Sou tola, sim: porque quero que as histórias (boas) não tenham um final, que as outras histórias (ruins) não deixem marcas nem memórias, que as pessoas permaneçam. Que eu permaneça. 

Todos os dias, me torturo mapeando todas as possibilidades do que pode acontecer. Na minha infantil tolice, crio um sentimento falso de que posso controlar as variáveis se eu as antecipar dentro de mim. Como se eu pudesse me defender das dores que sequer senti, me preparar para fins que não começaram, prever tragédias da minha felicidade. É um sofrimento tão vazio de objetivo, uma pré-ocupação sem sentido, mas mesmo assim me vejo às voltas da construção de um muro em minha defesa.

Me defendo de medos, inseguranças, angústias: do meu passado que não quero que se repita. Nunca mais. E estes muros podem até me proteger do passado, mas me atrapalham diariamente na construção do hoje. Tem dias que eles me impedem de ver o sol e as flores-borboletas-jardim lá fora.

Acima de tudo, minha fraqueza é não me sentir capaz. Depois de tantos sobressaltos e reviravoltas, e se fiquei gasta? E se eu estiver além de qualquer capacidade de recuperação?

Eu quero que o bom dure para sempre. Que a felicidade não acabe. Se tatuei flores e espinhos como uma forma de me acostumar com a impermanência dos momentos, meu coração sempre irá escolher que existam mais rosas no mundo. Minha mente cheia de imaginação se aflige com meu pessimismo. E o otimismo, deste também tenho medo: não quero me iludir novamente. Não quero ter que destruir outro castelo, ficar sem lar, dormir ao relento. 

Quero que meu pequeno mundo seja permanente. Os sonhos que habitam nele, a leveza tão pesadamente conquistada, essa calma (que me é tão não familiar). Quero que ele seja protegido das tantas e tamanhas ameaças que tomam conta dos meus pensamentos. Mas, até isso estou querendo errado!

A vida não deixará de ser impermanente só por causa minha. 
Talvez eu devesse querer ser mais forte. Sim, definitivamente, preciso ser mais forte.
Se estou cansada da batalha com minha mente, é porque estou permitindo que ela seja maior do que eu. 

Ao mesmo tempo, minha maior força é ressurgir. Depois que me afogo, depois que me afundo, depois que quase-morro: eu sempre volto. Se a vida é assim tão inconstante, talvez ela possa me oferecer algo de bonito e um teco de poesia também. Uma flor que nasça no meio dos escombros, branquinha e sadia. O outro lado da moeda de ser tola: sempre acredito. 

No amor. No permanente. No futuro.

Mesmo que eu pense milhões de motivos para haver só espinhos, tem sempre uma rosa. Tem sempre um jardim com algumas borboletas insistentes. Tem que ter. Só é preciso (sobre)viver enquanto isso.

Hoje o jardim está lindo, florido, e as borboletas dançam ao redor de mim. Fecho os olhos e vivo a impermanência do momento passar.

2 Comments

  1. O mundo precisa de mais pessoas tolas como você, Ruby. Pessoas que conseguem digerir tanto sol quanto trevas e produzir fantasia. O mundo precisa de poesia. E quais são seus ingredientes principais? Tolice e inconstância!
    Tuas rosas sempre se destacarão em meio aos espinhos. Mas não se livre deles, pois são necessários. Assim como os muros. Mas não deite-se sobre eles, nem construa muralhas em você. Deixe-os quietinhos em volta da sua roseira mais bonita e crie algo retrátil: com um chute, teu muro virará ponte. E você terá um mundo inteiro pra descobrir com olhos tolos de criança.

    Sou tua fã, não nego <3

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  2. Tô com a Yasmim e não abro...o mundo precisa de mais Rúbias e suas mil facetas flertando com o mundo, fazendo pontes de cor em meio à tolice monocromática das pessoas do metro com seus rostos sem face, em face oposta ao que chamamos viver.

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