Me costura





Não sei o que fazer com este monte de pedacinhos meus espalhados pelo chão. São como pequenos retalhos de tecido, sem nenhum padrão na forma, na textura, na estampa, ou nas cores. É somente uma completa bagunça, um emaranhado sem sentido onde tropeço. Nada encaixa em lugar nenhum, e em todas as minhas tentativas anteriores de reconstrução, nunca cheguei a lugar algum. 

Eu já sei o que preciso fazer: estou com a linha e a agulha nas minhas mãos. Mas não sei por onde começar. Todos os meus retalhos parecem tão feios e tão gastos, como se não valessem o trabalho de juntá-los. Não consigo enxergar, no meio dessa confusão, o que posso criar que seja bonito. 

No momento me sinto fraca, até mesmo para costurar. E me culpo por isso - todos dizem que devo ser forte, que meus pensamentos são bobagens sem sentido, que perco tempo andando em círculos e sempre repito o mesmo discurso. Ou talvez quem pense isso seja o meu juízo, me recriminando como só ele é capaz de fazer.

Me culpo também pelo meu passado. De agora e de antes, muito antes. E, acima de tudo, me culpo por ser assim como eu sou - essa bagunça de tecido velho no meio da sala. Um pano de chão, que tem a esperança ser limpo e inteiro um dia. Olho a linha, a agulha, minhas mãos, e despenco-as em cima do meu colo, cansada demais.

Como perdoo a mim mesma? Perdão dos meus erros e fraquezas. Das minhas feiúras e besteiras. De como às vezes sou quadrada e fechada, uma inadequação sem fim. Não levo muito jeito para estar aqui, no final das contas. Nem escrever mais eu sinto que faço bem.

Me sinto frágil e velha.
E sem valor algum.

3 Comments

  1. Flor de lis, talvez vc ñ precise se perdoar, só se aceitar.
    Vc é forte, e como é! Vc tem mais do q retalhos, e sim, tecidos inteiros lindos e coloridos.
    Aceite seu passado e ñ tente arrumar essa bagunça. Vc foi a melhor q poderia ter sido com o q tinha.
    Abrace seu passado, aceite seus erros, esses q te fazem humana, imperfeita e perfeita...

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  2. Quem é infeliz, vive no passado. Quem é ansioso, vive no futuro.
    Pegue aqueles retalhos que são velhos mas que não deixam de ser partes importantes de você e guarde-os numa caixinha bonita. Você não precisa costurá-los nem entender seus formatos agora, mas talvez precisará deles para remendar alguma futura experiência, com uma rendinha de perspicácia.
    Não espere que seu futuro tecido seja limpo e inteiro porque assim, deixarás de viver. E mesmo que ele fique intacto, um dia ficará amarelado por desuso.
    Use suas cores e não tenha medo do desgaste. Só assim serás feliz.

    PS: Quando se sentir velha, frágil e sem valor algum, feche os olhos e se abrace. Só assim você perceberá o toque suave e macio da seda que você proporciona aos seus amigos com seus abraços curadores. E tenha certeza que, tendo esse dom, você vale mais que muita gente. Mais que eu, inclusive.

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